domingo, 11 de maio de 2008

Mensagem do filho dum velho e muito grande amigo

A mensagem que transcrevo aqui veio-me (por caminhos inexplorados) do filho do meu maior amigo - se bem que, nestes últimos anos, e principalmente por culpa minha, nos tenhamos visto muito pouco. Mada me admira na sua iniciativa. Na idade do Bernardo, o seu Pai, Rui, e eu, queríamos mudar o mundo e a lua... Ficou-nos um grande sentimento de solidariedade com aqueles que, como cada vez mais acontece em Portugal, ficaram cativos da pobreza e da miséria, e um ainda maior sentimento de injustiça ao verificarmos que as pessoas, os partidos, os governos em que acreditámos, nada fazem para resolver esse estado de coisas e se limitam a distribuir benesses entre si, no silêncio dos gabinetes, seguido do barulho artificial, porque dirigido à comunicação social, dos corredores da Assembleia e dos programas de televisão... Disse ao Bernardo, em privado, o que penso da sua iniciativa. As pessoas anuem - porque dizer não fica mal - mas esquecem depressa. Mas quem sou eu, aos cinquenta e poucos anos, ainda activo mas algo desiludido, para não colaborar com alguém que mostra tanta confiança na capacidade de mobilização de nós todos? Por isso, aqui fica a sua mensagem, com a nostalgia de quem, em discussões cerradas com o seu Pai, quando tínhamos ambos vinte, trinta anos, sempre se convenceu que a mudança era possível e se apresta hoje a negar a mensagem de Camões: nem sempre o mundo apresenta novas qualidades.

Olá a todos,
A maioria provavelmente não me conhece, o meu nome é Bernardo Teixeira Motta:
bernardo.teixeira.motta@gmail.com
Tenho 23 anos, estudei no liceu francês durante 12 anos, fui para o colégio Moderno acabei por tirar gestão hoteleira na Universidade Internacional (privada) e hoje trabalho no departamento comercial de uma das maiores cadeias hoteleiras do mundo.
Tenho uma vida normal, adoro desporto, jogar ténis, para o qual não tenho jeito, mas gosto, estar com os amigos, apanhar sol, estar na praia ir ao cinema, sair a noite, beber copos, rir quando posso, chorar quando tenho que, e todas as outras coisas que a maioria das pessoas da minha idade gosta de fazer.
Sou super ambicioso, quero sempre mais, nunca estou satisfeito e tenho sempre a cabeça a mil à hora, a pensar em algo cada vez maior e melhor.
Já bati muitas vezes com a cabeça na parede, já 'morri' de amor, já 'morri' de desgosto de amor, sinto-me uma criança e muitas vezes actuo como me sinto.
Já passei momentos muito maus, que ultrapassei, já passei momentos óptimos, que para sempre recordarei.
Resumidamente, devo ser igual a muitos de vocês, que provavelmente ao lerem este início de texto, sentem e dizem 'eu também'.
Nunca me interessei por política, nem pelo estado do meu país, desde que o 'meu' mundo funcionasse eu continuava a vivê-lo.
Desde que comecei a trabalhar a minha vida mudou bastante, o tempo é curto e passa a correr e dou por mim a não viver a vida, a limitar-me a existir.
Tudo é muito mais rápido e assustador, deixamos de ter tempo para o que achávamos poder fazer sem restrições a vida toda, deixamos de ter tempo para o que gostamos, deixamos de ter tempo para os outros e deixamos de ter tempo para nós.
Comecei a pensar no nosso papel nesta vida que passa sem darmos conta, imaginando daqui a tão 'pouco' tempo, olhar para trás e pensar o que contribui para este país, para este mundo, para os outros:
Provavelmente nada.
Olhei em volta, com olhar de ver, e reparei que há muito a melhorar, muito a mudar e muito se pode fazer dando muito pouco de cada um de nós.
Acho que todos somos iguais neste mundo, uns brancos outros pretos outros amarelos, uns baixos uns altos, uns gordos uns magros, com gostos e ambições diferentes, com mais ou menos possibilidades, mas no fundo, somos todos iguais.
Sempre fui uma pessoa que lutou pelo que queria, sempre que consegui o que queria e o que não consegui foi porque não quis.
Bom, já me prolonguei mais do que desejava e vou directo ao meu novo objectivo.
Acho que podemos, se todos colaborarem, mudar muita coisa em relação a Portugal, em relação ao mundo em que vivemos.
O meu objectivo é contribuir com 1 Euro por mês para causas que juntos iremos escolher.
Não quero criar uma associação social nem pedir dinheiro em troca de ursinhos de peluche como tanto vemos nos centros comerciais.
Quero sim, arranjar um grupo de pessoas, amigos, conhecidos, em que cada um contribua com 1 Euro por mês para uma dada causa a determinar e acreditem que há muitas causas a determinar e a apoiar.
Quero arranjar uma forma de votação transparente em que todos percebamos que estamos realmente a fazer parte de um movimento social e que não seja algo invisível em que a única participação que temos seja financeira. Antigamente, na Grécia, a votação era feita em praça pública, com braços no ar. Apesar de saber que é uma forma pouco viável é a forma mais transparente que vejo.
Não quero que este movimento tenha uma cara e não é por ser eu a mandar este email que serei o 'chefe' quero que o movimento tenha as caras todas das pessoas que nele participam e assim querem ajudar os outros.
A ajuda será dada a nível financeiro, 1Euro por mês e também a nível presencial, já que cada pessoa pode ajudar na acção determinada, ou distribuindo cobertores ou comida, pessoalmente. Procuro, assim envolver todos aqueles que queiram, para além de dar 1 Euro, também dar ajuda no terreno.
A forma que achei mais fidedigna para a contribuição de 1 Euro é abrir-se uma conta num banco, a determinar, com o nome de cada pessoa que contribui com o Euro como uma das detentoras da conta e assim terem a possibilidade em levantar o 1 Euro que depositaram sempre que quisessem para sentirem que não estão a depositar o dinheiro na conta de alguém em especial.
A propósito de bancos e empresas, não quero ter o apoio de nenhuma empresa, quero que seja um movimento de pessoas para pessoas e não com apoios de empresas. A única empresa envolvida será um banco para depositar o dinheiro e SÓ PARA DEPOSITAR O DINHEIRO.
Como sabem as empresas cada vez mais querem fazer parte destas iniciativas e assim demonstrarem que cumprem com a responsabilidade social das empresas, cada vez mais na moda.
AH! a contribuição será limitada a 1 Euro, cada pessoa só poderá contribuir com 1 Euro e não mais, para não haver desigualdades
Começarei com 10 pessoas, 20, 30, 100 ... o que for.
O ideal desta ideia?! Ter 1milhão de pessoas ajudar mensalmente Portugal. Fazer de Portugal um exemplo a ser seguido pelos nossos vizinhos: Espanha, França, Inglaterra ... pela Europa fora. Portugal foi um grande país no tempo dos descobrimentos, caiu no esquecimento e na indiferença dos restantes países da Europa, mostrarmos que somos unidos e que juntos conseguimos melhorar o nosso país em muitos aspectos e a vários níveis.
Ser um exemplo de união e solidariedade e tudo isto sem a ajuda de ninguém nem de nenhuma empresa ou fundo de que género for.
O que procuro com este email? a resposta é simples: ajuda e apoio.
Preciso de saber quem alinharia nesta ideia, provavelmente muitas das coisas que disse podem vos parecer ridículas, pura imaginação minha, não fazível e utópico e se calhar é mesmo.
Querem saber o que me fez mandar este email? Foi depois de falar com algumas pessoas que acharam ser uma boa ideia, procurar alguém que vive com dificuldades, não só financeiras, como psicológicas, a minha empregada Elisa, uma força de vida que ultrapassa os problemas mais graves deste mundo e as barreiras mais difíceis de transpor, explicar-lhe a minha ideia e ela dizer que concordava e que obviamente que contribuiria com 1 Euro por mês apesar de por vezes fazer-lhe falta ao longo do mês esse dinheiro.
Preciso da vossa ajuda para saber daqueles que poderiam complementar esta ideia com as vossas opiniões, se concordam, se não concordam, com o que concordam ou com o que não concordam.
Mandem-me emails com os vossos comentários e incluindo todos os emails para que todos possamos fazer parte da vossa opinião e sugestões.
Sei que o mais provável é esta iniciativa não passar de imaginação e não seguir para a frente mas pelo menos segui aquilo em que acredito, mudar este país por nós e só com a nossa vontade.
Por fim, peço-vos, por favor, que passem este correio electrónico a contactos vossos, de forma a tentarmos reunir o maior número de pessoas.
Obrigado a todos por terem lido este email.
Abraços e beijinhos,
Bernardo Teixeira Motta.