Zé Maria - Seis meses também
Quando penso no Zé Maria, e principalmente quando olho para esta fotografia, sinto que a minha indignação pela sua vida roubada não desapareceu com os seis meses que passaram desde a sua morte.
Não encontro palavras de entendimento. Nem de desculpa. Deus, se existisse, teria muito por que responder: por maldade ou distracção.
Lembro-me de – tinha ele dez, doze anos? – irmos jantar juntos à cervejaria Galiza. Admirava-se por eu escolher uma salada de bacalhau. Já não me lembro do que ele pedia: um bitoque? uma francesinha? Gostava de poder dizer-lhe que já não gosto dessas saladas de bacalhau. Ele soltaria uma gargalhada. Mas que interessa?
O Zé Maria era um miúdo inteligente. Tinha imensa graça. Nos últimos tempos, tinha crescido, tinha amadurecido. Esta fotografia é a prova disso. Estava bonito.
Que desamparo! Feridas em carne viva. O silêncio, a ausência insuportável. Um enorme vazio.
Saudade, memória, desconsolo.
Penso na Vera, no Zé Maria Pai, no Pedro, Maria e Duarte.
Quanto tempo, até compreendermos? Nunca!
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