Deu-me Deus este gládio...
Nada tem a ver mas a referência de Grossman a «glaive» fez-me lembrar este poema de Fernando Pessoa, incluído na Mensagem, e dedicado a D. Fernando, o Infante filho de D. João I, morto em Tânger, que, no nosso tempo de escola primária, conhecíamos por Infante Santo, nessa mistura de registos entre Estado e Igreja em que o salazarismo se deleitava. Há quem diga que o poema tem uma significação oculta e sabe-se que Fernando Pessoa acreditava, duma forma estranha, em fenómenos esotéricos e em especulações astrológicas: mas tudo se perdoa ao poeta genial.
D. Fernando, Infante de Portugal
Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro de mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.
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