Minhana - e breve digressão pelas férias covilhanenses

Há muito que não encontrava a palavra «minhana». Mas, para quem frequentou a escola Avé-Maria, se bem que por pouco tempo porque os meus pais partiram para o Funchal quando eu tinha seis anos e só voltámos a Lisboa depois de terminada a minha instrução primária, este nome não pode deixar de despertar emocionadas recordações. (Que serão ainda maiores no caso do meu irmão Francisco, que lá estudou até ao antigo segundo ano do liceu.)
Acresce que a Minhana, como todos a chamavam, fundadora da Escola em 1945 e sua directora até à sua morte (de que não consegui descobrir a data exacta mas que penso ter sido posterior à minha vinda para Bruxelas, em 1986), era prima direita da minha avó. Com efeito, o seu nome era Maria Alexandra Ranito de Almeida Eusébio (a minha avó chamava-se Maria Helena Ranito Pessoa.) Eram ambas netas do velho Ranito, de que tantas vezes ouvi falar, nestes precisos termos, e de que conheci a casa mas sobre quem, para além disso, nada sei. Tantas vezes, nas minhas férias na Covilhã, entre 10 de Junho (fim das aulas) até que acabava a Feira de São João, visitei o seu irmão, o primo José de Almeida Eusébio, e convivi com os seus filhos que depois reencontrei em Lisboa, em casa de António Alçada Baptista, o António Alfredo de que me falavam os meus pais, ainda debaixo do encantamento provocado pelo extraordinário talento de contador de histórias que nunca perdeu e que foi por eles primeiro experimentado nos serões das Penhas da Saúde, no Verão, em casa do tio Chico Cruz, casado com uma irmã do meu avô, a tia Lucinda (que ficava mesmo em frente deste hotel.)

Não conhecia o verdadeiro sentido da palavra «minhana», que encarei apressadamente como uma alcunha sem particular significado. Mas a referência de Violante Branco levou-me a procurá-lo. E, com efeito, existiu no antigo galaico-português a forma miona usada como título honorífico dado às senhoras que, por nascimento ou casamento, pertenciam à mais alta nobreza. Esta forma miona, que resulta (como madame ou madonna) da aglutinação do pronome possessivo feminino da primeira pessoa e do substantivo latino domina, foi pouco frequente, tendo sido (segundo Clarinda de Azevedo Maia, da Universidade de Coimbra, in «Ona. Um arcaísmo galaico-português») possivelmente «deslocada pelas formas secundárias delas resultantes meana, miana e minhana.» (Assim, este artigo constitui também um piscar de olhos à Miana, que visita este blogue com alguma frequência e cá deixa os seus comentários).
Enfim, uma digressão que me permitiu voltar, por uns breves momentos, ao um tempo em que «eu era feliz e ninguém estava morto», como diz Álvaro de Campos, no seu poema que parece descrever-me: «Aniversário».
1 Comments:
Caros Senhores,
O meu nome é Paulo Ranito e tenho vindo a tentar traçar a história do apelido Ranito. O Vosso blogue foi-me indicado como tendo referências a esse apelido, pelo que gostaria, se possível, de ser contactado pelos senhores de forma a que possamos trocar algumas informações. o meu e-mail é pauloranito@gmail.com
Obrigado desde já,
Paulo Ranito
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