sexta-feira, 20 de abril de 2007

Eleições francesas - François Bayrou

Difícil foi escolher a imagem para ilustrar esta entrada. A maior parte das caricaturas de Beyrou, disponíveis em rede, mostram-no sobre um ângulo desfavorável, a cavalo entre a direita e a esquerda. Esta, ao menos, fala do «Tiers état.» Quem conhece a história da Revolução Francesa sabe o que isso significa!

Mas a representação tradicional de Bayrou contém muito de verdade. Não tenho ilusões. Bayrou, a ser eleito, sê-lo-á, em grande parte, pela mesma franja do eleitorado francês que permitiu a eleição de Giscard d’Estaing. Só que, hoje, o adversário não se chama Jacques Chaban-Delmas, o homem da «Nouvelle Société», resistente, amigo de François Miterrad e patrono de Jacques Delors, mas Nicolas Sarkozy. E isso muda tudo.

Votaria (a ser francês) em Ségolène Royal se ela, na segunda volta, se defrontasse com Sarkozy. Mas Bayrou é, de entre todos os possíveis adversários do candidato da direita francesa, aquele que tem mais hipóteses de finalmente o vencer. Por isso – chamem-lhe voto útil, chamem-lhe o que quiserem – votaria Bayrou logo na primeira volta. Para não correr o risco de eleger Sarkozy.

Voto negativo? Voto contra antes que voto a favor? Talvez. Mais, je m’en fous. Como disse Michel Rocard – com a sua deliciosa mania de ter razão antes de todos os outros – o que importa é impedir a vitória do pequenote imbuído da superioridade da civilização ocidental. Olhem para a cara dele! O homem é falso - um sacana (desculpem a expressão). Ninguém pode votar nele e dizer, depois, que se enganou.

Não minimizo as dificuldades de Bayrou, se for eleito: a necessidade de construir uma maioria a partir de partidos que o não apoiam; a dificuldade de encontrar um caminho entre uma direita de fiéis clientelas (vindas de Chirac) e uma esquerda que não compreende o mundo em que vive; os inacreditáveis obstáculos que surgem no caminho de quem pretende derrubar essas duas Bastilhas conservadoras (palavras de Bayrou) que são o PS e a UMP. Mas Bayrou traz consigo, pelo menos, a esperança de que as coisas possam mudar. Fosse eu francês, dar-lhe-ia o meu voto no domingo, e ainda o meu voto dentro de quinze dias. Quem sabe? A esperança morre devagar.

PS. Pese embora a Paulo Dentinho e, em geral, aos apresentadores dos telejornais portugueses, o nome de Bayrou não se pronuncia Bérru, mas Bairru. Reconheço que é uma excepção às regras de pronúncia do francês, mais c'est malheureusement comme ça! Com efeito, o candidato é «béarnais» – como d’Artagnan! Será por isso que ainda mais nos apetece votar nele?