segunda-feira, 2 de abril de 2007

Dia das Mentiras - Proibido fumar - nos carros!



















Sou, em princípio, favorável à maioria das proibições de fumar em espaços fechados que, ultimamente, têm sido decididas um pouco por toda a parte. Não me incomoda que não seja possível puxar do cigarro e dar umas passas em bares e restaurantes, nos cinemas, nos locais de trabalho, para já nem falar dos transportes públicos ou dos hospitais, onde a proibição é mais antiga. Mas, por vezes, vai-se longe de mais no combate ao fumador. Assim, ouvi dizer que há cidades norte-americanas em que as pessoas são proibidas de fumar nas ruas. Vá lá saber-se porquê!

Por isso quando, ontem, preguiçosamente sentado diante da televisão, assisti a esta notícia extraordinária de que a Bélgica se prepararia para proibir as pessoas de fumar no interior dos seus carros, nem me apercebi de que se tratava de logro do dia das mentiras. Ouvi um polícia a explicar-nos que certos acidentes eram provocados pelas pessoas que deixavam cair nos assentos os morrões dos cigarros e tentavam desesperadamente apagá-los, e ainda que, de qualquer maneira, havia que proteger (de si mesmos) condutores e passageiros, encerrados naqueles espaços exíguos e fechados. Tudo isso me pareceu bastante estúpido - mas já ouvi argumentos igualmente débeis para justificar medidas deste tipo. E nem sequer quando o mesmo polícia disse, sem sorrir, que havia ainda muito que fazer em matéria de segurança rodoviária, e que seria preciso também começar a pensar em punir outros comportamentos, como comer no carro, fazer a barba no carro, retocar a maquilhagem no carro e consultar o computador no carro (o que até me parece mais perigoso do que falar ao telefone), e que havia aqui «um vasto domínio a explorar» - nem sequer então me apercebi de que estávamos no Primeiro de Abril.

Foi só hoje quando, indignado, me preparava para escrever esta entrada a refilar por esta inacreditável intromissão na nossa vida privada e contra a tendência crescente do Estado moderno de se intrometer na esfera da nossa autonomia individual, que compreendi o engano. Contudo, o simples facto de ter podido pensar que se tratava duma notícia verdadeira diz muito (para além de sobre a minha distracção crónica) sobre aquilo que estamos actualmente preparados para acreditar que os nossos governos possam decidir em matéria de respeito da liberdade de cada um de nós.