domingo, 22 de abril de 2007

Segunda volta - TSS

Assim, as linhas de fractura para a segunda volta estão definidas. Nicolas Sarkozy assumirá uma linha de ruptura mas apelará crescentemente a uma France fraternelle. Ségolène Royal falará de mudança em serenidade e da correcção das grandes injustiças sociais, dirigindo-se sobretudo a todos os que se sentem desconfortáveis com uma retórica que, a mal ou a bem, parece próxima do partido de Jean-Marie Le Pen. Para Sarkozy, a ruptura passa por acentuar a ideia de que só ele tem a coragem de dizer as verdades que os outros evitam (sobre a imigração, sobre a segurança, sobre o modelo social.) Por outro lado, nos próximos dias, o candidato da direita não deixará de sublinhar a sua competência face a uma candidata com comparativamente menor experiência governativa. Royal apresentou esta noite, com um detalhe que não era esperado, propostas precisas para a reforma das institutições, defendendo uma Sexta República de contornos mais precisos, e estendeu a mão aos eleitores dos candidatos que não passaram à segunda volta. Ao contrário do que podia prever-se, hoje, o discurso de Sarkozy foi mais de pessoa privada, o de Ségolène mais de mulher de Estado. Registe-se ainda a enorme participação eleitoral, invertendo uma tendência constante, nas últimas consultas eleitorais, para o crescimento da abstenção. Tem-se falado tanto da insatisfação dos cidadãos com a política e os políticos que esta é uma mensagem a meditar. Essa França do descontentamento, que tantos em Portugal (particularmente para os lados do Público) desprezam, deu-nos uma lição de civismo.

Quanto à minha opinião, ela não será surpresa para quem me conhece. Mas as razões que me levariam a votar Ségolène Royal não são as que constam do cartaz da candidata socialista. Não acredito, com efeito, que algo possa changer fort. O meu voto assentaria simplesmente num instinto que reconheço baixamente primitivo mas que é aquele que une os que, como eu, são adeptos do TSS (Tous Sauf Sarkozy). Há limites que não podem ser transpostos, palavras que não devem ser ditas, acções que desqualificam. Não vale a pena ir buscar os eleitores do Front National se o preço a pagar é aceitar os valores da extrema-direita.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo inteiramente com a ideia de que a França nos deu uma liçao de civismo, com a participaçao massiva nas eleiçoes. Ainda temos muito a aprender com esses "enfants de la Patrie".
Nao sou partidaria desse TSS - curiosa a expressao. As razoes que me teriam levado a votar Ségolène Royal não são as que constam do cartaz da candidata socialista. A mensagem desta candidata passa dificilmente. Por detras de uma figura feminina agradavel, e de um sorriso estereotipado, de um body language ainda hesitante, um olhar pouco directo, uma voz pouco afirmativa, existe uma mulher inteligente e sensata. A quem falta aprender ainda a verdadeira estatura de uma estadista. Mas acredito, ao contrário, que algo podera mudar com Sego. "O meu voto assentaria simplesmente num outro tipo de instinto". Que les femmes peuvent faire, sinon mieux, mais aussi bien que les hommes. Et je crois, tout particulièrement à l'intelligence du coeur des femmes.
Nao por ser feminista convicta, mas por ver com agrado como as mulheres se vao impondo na politica Europeia. E que a acçao e sobretudo o olhar de uma mulher são diferentes. Num meio eminentemente de homens, ainda ha dez anos atràs. Lembremos o caso da Finlândia e da Alemanha.
E porque seria com imenso orgulho e satisfação pessoal,
que veria a primeira mulher francesa a chegar ao cargo de Presidente da Républica. Vive Madame la Présidente!

24 abril, 2007 16:54  

Enviar um comentário

<< Home