segunda-feira, 23 de junho de 2008

Salazar e Bush - A tortura

Segundo nos informa Irene Flunser Pimentel, Prémio Pessoa 2007, na sua magnífica «A História da PIDE» (Círculo de Leitores, 2007), em 1932, numa das suas entrevistas a António Ferro, Salazar foi questionado sobre os possíveis maus tratos que estariam a ser exercidos pela polícia política (naquela altura, a PIM – Polícia Internacional Portuguesa que mais tarde se transformaria na PVDE – Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, depois na PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado e, com Marcelo Caetano, professor de direito administrativo preocupado com dar ao aparelho repressivo uma imagem de normalidade, na DGS – Direcção Geral de Segurança). Em resposta., o ditador disse que, depois de um inquérito, se chegara «à conclusão de que as pessoas maltratadas eram sempre, ou quase sempre, temíveis bombistas, que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da Polícia, onde tinham escondido as suas armas criminosas e mortais». Acrescentou Salazar que «só depois de empregar esses meios violentos» é que eles se decidiam «a dizer a verdader» e perguntou a Ferro «se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzio de safanões a tempo nessas criaturas sinistras».

A propósito da War on Terror e dos meios necessários para a vencer, que diz Bush? Que se trata de perseguir «homens perigosos com um conhecimento único das redes terroristas e os seus planos para novos ataques». A segurança da Nação e as vidas dos cidadãos americanos, acrescenta, depende da nossa capacidade de conhecermos a tempo o que sabem esses terroristas. Assim, precisamos de poder deter, interrogar e, quando necessário, perseguir judicialmente os terroristas capturados na América ou nos campos de batalha espalhados pelo mundo. E o Presidente americano ainda disse, noutra ocasião, que se tratava de homens maus (evil men) , cuja vida não era equivalente à dos cidadãos patriotas e leais. Embora afirmasse (o que é mentira) que os Estados Unidos nunca torturam esses homens, Bush reconheceu que recorriam a métodos alternativos de interrogatório, que eram duros. Soubemos depois que, entre esses métodos, se encontravam a privação do sono e a simulação de afogamentos ou de fuzilamentos.

Les bons esprits…

(Desenho de Fernado Botero)