sábado, 29 de abril de 2006

Nunca é tarde para bem-fazer: ainda o discurso de Cavaco Silva

No «Público» de hoje
(http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2006&m=04&d=29&uid=&id=76051&sid=8312 – penso que acessível apenas a assinantes),
José Manuel Fernandes corrige um editorial anterior do mesmo jornal, já aqui criticado em 26 de Abril. Afinal, o discurso de Cavaco «merece ser relido depois da surpresa que tivemos ao ouvi-lo». É que o Presidente não fala para os jornalistas, nem para os analistas. «Fala por cima deles directamente para os cidadãos». Deve ser por isso que os analistas do «Público» demoram tempo a perceber o sentido de certas mensagens.

Nunca é tarde para bem-fazer. Se não fosse um certo tom de enfado – habitual – perante o papel do Estado, desta vez em matéria de solidariedade social, eu poderia subscrever, excepcionalmente, quase tudo o que diz José Manuel Fernandes. Principalmente, a referência aos «esquecidos», ou seja, aqueles para quem o contrato social que, em Portugal, actualmente lhes é proposto, é pura e simplesmente iníquo. As causas desta injustiça são muitas e nem a esquerda nem a direita estão isentas de culpas. A direita, porque a ideologia neo-liberal que define o novo pensamento único, conduz à exclusão. Diz-se muito mal, hoje, dos «Trinta Gloriosos» (os anos a seguir à guerra, de recuperação e progresso económico) mas nunca, como então, os excluídos da sorte tiveram acesso a condições de vida humanas e seguras. A esquerda, porque ainda não compreendeu que a administração pública (e o Estado) não é naturalmente amiga dos cidadãos mais desfavorecidos. Pelo contrário, nas actuais circunstâncias, qualquer exigência burocrática (e elas ainda pululam, embora se espere que o trabalho de Maria Manuel Leitão Marques tenha rapidamente resultados positivos) se traduz num verdadeiro imposto – uma corveia – que afecta os mais fracos.