quarta-feira, 20 de junho de 2007

Hospital - Dreno de Redon

Que é um dreno de Redon? (Nada a ver com a caricatura aqui ao lado, obra de Zinoviev na série «Angústias diurnas e nocturnas», e que é suposto representar o medo (pânico?) sentido diante de médicos, enfermeiras e hospitais.) Depois duma aturada pesquisa na Internet, encontrei a resposta, mais ou menos nestes termos:

«O dreno de Redon ou, em terminologia médica francesa, o redon, foi aperfeiçoado pelo francês Henri Redon em 1899. Trata-se de um tubo de matéria plástica de que uma das extremidades (a que se deixa no interior da ferida depois da operação) apresenta um grande número de orifícios. A outra extremidade está ligada a um dispositivo que permite aspirar as secreções e o sangue que provêm da ferida através dum aparelho de aspiração».

Foi isso que me puseram na coxa depois da minha recente operação – e digo-vos que essa coisa, quando metida no osso, dói que se farta. Uma dor repentina, aguda, insuportável, que perdura durante intermináveis minutos. Levantar-me da cama ou deitar-me nela, sentar-me ou levantar-me na cadeira que ficava ao pé da janela, era um verdadeiro tormento, a ponto que, quando as coisas iam pior, preferia ficar de pé, encostado à mesa de cabeceira, a ler o jornal ou as minhas revistas. Tinha medo de tossir ou de espirrar. E, para maior azar, ao terceiro dia, quando o meu sofrimento parecia ter acalmado, mudaram-me o penso; e, talvez devido a uma diferente posição do tubo junto ao osso (ou dentro dele), as dores centuplicaram.

No domingo à tarde, ao ver que o sangue no dreno começava a secar, dirigi-me às enfermeiras e pedi-lhes que telefonassem à minha médica para lhe perguntarem se podiam tirá-lo. A princípio, disseram-me que não, que aquilo tinha que ficar dentro de mim por períodos de, pelo menos, 24 horas: típica reacção de enfermeiras! Mas a ideia de passar outra noite com aquela coisa enfiada na perna começou a roer-me. Num tom grandiloquente, solene e zangado (quem me conhece sabe que sou capaz dessas coisas) informei as senhoras que me recusava a passar outra noite naquela tortura. Como comecei a elevar a voz, uma delas atalhou prontamente dizendo-me que falaria com a médica. Passada meia hora, vieram dizer-me que estava bem, «on va vous enlever le redon et vous pouvez partir.» Ouf!

Quando vos disserem que uma operação implica a colocação dum dreno, pensem duas vezes. Quando a minha mãe esteve no hospital, na cama ao lado dela estava uma senhora a quem o médico disse que tinha que lhe pôr um segundo dreno. A senhora começou imediatamente a chorar. Com o meu ar de bom samaritano, aproximei-me dela para a consolar ela falou-me das dores horríveis que essas coisas provocavam. Descontraído, atribuí a sua reacção a exagero próprio de mulheres fracas. Devia ter prestado atenção!

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Com ou sem dreno, com mais ou menos dores, em convalescença ou já recuperado, fico contente por ter voltado a escrever no seu blog!

20 junho, 2007 20:09  
Anonymous Anónimo said...

Faço minhas as palavras do João! Já cá fazia falta. Um grande beijinho!

23 junho, 2007 22:22  
Anonymous Anónimo said...

Comprovo, atesto e assino por baixo... Estava por lá, mas sem dreno, embora a solidariedade fosse incondicional!

29 junho, 2007 16:08  
Anonymous Anónimo said...

8/10 sur l'écelle de la douleur, hein papa??? :p looooool

15 julho, 2007 14:19  

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