Rostropovich

Era um extraordinário violoncelista. Mas era, acima de tudo, um homem corajoso, de uma coragem que se alicerçava nas suas convicções profundas - a essencial dignidade de todos os seres humanos, o valor da liberdade e da democracia - e de uma grandeza que se mostrava precisamente quando alguns outros preferiam fazer-se pequenos - para não serem notados. Quando Soljenitsyne foi perseguido pelas autoridades soviéticas, acolheu-o em sua casa e defendeu-o publicamente, caindo em desgraça perante as autoridades do seu país que o exilaram em 1974 e, juntando o insulto à injúria, lhe retiraram a nacionalidade soviética em 1978.
Há mais de dez anos, pouco depois da queda do muro de Berlim, assisti, com a Vanda, a um recital de Rostropovich no Palais des Beaux-Arts em Bruxelas. Devo reconhecer que foi uma desilusão. Rostropovich dedicou toda a segunda parte do concerto à interpretação duma impossível obra moderna, da autoria de um compositor presente na sala, cujo nome esqueci e nunca mais vi mencionado (defeito meu, por certo!) Mas a sala ovacionou-o de pé, e nós também: não, talvez, pelo espectáculo desse dia, mas certamente pela sua vida. Aplausos que eram largamente merecidos. E que podem ser repetidos hoje, com imensa emoção, no dia da sua morte.
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