Rostropovich
Em Março passado, tinha pensado em assinalar aqui os oitenta anos de Rostropovich. Mas foi uma época em que quase nada escrevi para o blogue. E agora vem a notícia de que morreu hoje, num hospital de Moscovo.
Era um extraordinário violoncelista. Mas era, acima de tudo, um homem corajoso, de uma coragem que se alicerçava nas suas convicções profundas - a essencial dignidade de todos os seres humanos, o valor da liberdade e da democracia - e de uma grandeza que se mostrava precisamente quando alguns outros preferiam fazer-se pequenos - para não serem notados. Quando Soljenitsyne foi perseguido pelas autoridades soviéticas, acolheu-o em sua casa e defendeu-o publicamente, caindo em desgraça perante as autoridades do seu país que o exilaram em 1974 e, juntando o insulto à injúria, lhe retiraram a nacionalidade soviética em 1978.
Há mais de dez anos, pouco depois da queda do muro de Berlim, assisti, com a Vanda, a um recital de Rostropovich no Palais des Beaux-Arts em Bruxelas. Devo reconhecer que foi uma desilusão. Rostropovich dedicou toda a segunda parte do concerto à interpretação duma impossível obra moderna, da autoria de um compositor presente na sala, cujo nome esqueci e nunca mais vi mencionado (defeito meu, por certo!) Mas a sala ovacionou-o de pé, e nós também: não, talvez, pelo espectáculo desse dia, mas certamente pela sua vida. Aplausos que eram largamente merecidos. E que podem ser repetidos hoje, com imensa emoção, no dia da sua morte.
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