Portugal e a invasão do Iraque - Barroso dixit
Afinal, o apoio à invasão do Iraque não prejudicou Portugal, embora tivessem existido informações que foram dadas ao então Primeiro-Ministro do país «que eram erradas» (presume-se que fossem as provas esmagadoras da existência de armas de destruição massiva que foram então apresentadas por Bush e Blair). E como se pode garantir que não houve prejuízo? Porque «Portugal não perdeu nada, nem na Europa, com isso. Repare, depois das decisões que tomei fui convidado para Presidente da Comissão Europeia e tive o apoio de todos os países europeus. O que demonstra que o facto de Portugal ter tomado naquela altura aquela posição não prejudicou em nada, em nada, a imagem de Portugal junto dos seus parceiros europeus.»
Está assim encontrado um critério de apreciação da política externa (que pode, aliás, ser estendido à política interna) de um país: os cargos oferecidos aos seus Primeiros-Ministros depois de saírem do Governo (ou, no caso de Barroso, quando ainda lá estão). Estranhamente, a ciência política ainda não se tinha debruçado sobre ele - mas todos sabemos que professores e teóricos são gente pouco inventiva. Assim, o apoio do Reino Unido a Bush não prejudicou o país porque Blair foi nomeado enviado especial do Quarteto para o Médio Oriente. Já temos mais dúvidas em relação a Aznar. O facto de ele estar a ganhar imenso dinheiro no circuito das conferências aberto a antigos líderes políticos também contará? Se assim for, juntemos-lhe Clinton, que é o recordista nesta matéria. E pergunto-me ainda onde colocar a fasquia? Quais são, em concreto, os factores de sucesso? Ser convidado para presidente de um grande banco? De uma organização internacional? Ser eleito presidente de um grupo parlamentar (determinando assim a posteriori o inegável sucesso da política de Santana Lopes nos poucos meses que esteve à frente do Governo)? E porque não ser contratado para porteiro do maior hotel do mundo? Ou para chauffeur de táxi? São afinal profissões de grande dignidade.
Uma outra possível objecção situa-se em plano diferente. Se a candidatura de Durão Barroso à Presidência da Comissão Europeia tivesse soçobrado, o apoio português à invasão do Iraque seria retrospectivamente errado? Nesta perspectiva, parece que sim. Não se pode ter o bolo e comê-lo!
Estas dúvidas que se me apresentam não colocam em dúvida a pertinência deste novo critério mas constituem exemplos de algumas dificuldades na sua aplicação. A quem quiser dispor de mais informações sobre esta evolução da ciência política, recomendo-lhe que contacte directamente o Presidente da Comissão Europeia nomeadamente para saber que papel desempenham na apreciação das decisões de política externa outros factores mais comezinhos como sejam os princípios e regras de direito internacional, apelo às organizações internacionais, a consideração das alianças do país e a precisa definição dos interesses nacionais.
2 Comments:
gostei muito deste teu post.
o raciocínio do DB leva mesmo à conclusão que no fundo até foi positiva para Portugala desastrosa intervenção sobre o Iraque: ele veio para Bruxelas, o sucessor foi despedido por incompetência e vieram outros com um ar (ligeiramente) mais fresco
Aspecto que não me tinha ocorrido... mas do ponto de vista do DB essa deve ter sido uma (voire l'unique) consequência negativa da sua nomeação. Para o país, claro! Para ele, não houve passivo.
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