Um racismo elementar, meu caro Watson

Estou muito contente por poder voltar à minha posição de princípio – que é a de contrariar José Manuel Fernandes, excepto em casos verdadeiramente excepcionais. Gosto francamente de poder discordar dele. Para mim, essas diferenças de opinião confortam-me na ideia de estar ainda lúcido.
Quanto ao triste caso que nos ocupa hoje, será que José Manuel Fernandes não percebeu que o que está em causa não é a posição de Watson – todos temos direito a proferir tolices e a democracia e o liberalismo estão aí (também) para proteger os asnos. O que se passa é que este é um homem com especiais responsabilidades: um cientista de nomeada, Prémio Nobel, com obra reconhecida, prestígio e notoriedade. Exige-se de pessoas na sua posição que pensem antes de falar porque o que dizem será ouvido com reverência. Palavras que poderiam aceitar-se se proferidas por José Manuel Fernandes ou por mim, num círculo restrito de amigos ou à mesa do café, e que dariam apenas lugar às críticas ou comentários do reduzido número de pessoas que as ouviriam e encolheriam os ombros interrogando-se sobre se teríamos enlouquecido, não são admissíveis quando pronunciadas por este homem público numa entrevista pública. A celebridade, a fama, o respeito dos pares, trazem consigo acrescidas responsabilidades.

Para além de que a punição não foi particularmente severa: a anulação duma conferência ou a suspensão das actividades do cientista no seu laboratório de origem não se traduzem num castigo infamante ou exagerado. Não se trata de o silenciar, como pretende José Manuel Fernandes, mas apenas de censurar os seus erros. Os erros pagam-se, como costuma dizer-se. O preço nem sequer foi elevado. Nada que se compare ao que sofreram alguns homens por causa das opiniões de que Watson se fez eco.
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