segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pedra filosofal - António Gedeão, poeta - Manuel Freire, compositor

À procura das canções de Manuel Alegre, descobri hoje, mais ou menos por acaso, que podia pôr aqui neste blogue alguns dos peomas-canções que povoaram a minha juventude. A primeira, por razões que nem sequer acho necessário justificar, é a Pedra Filosofal, de António Gedeão.

















Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta,
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos,
que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança


Manuel Freire cantou este poema, no maior sucesso do tempo das «Baladas» em Portugal, e, por isso, encheu a minha juventude e o meu despertar para uma certa forma de encarar a vida, a política, a democracia e o socialismo (que tranformei rapidamente, como António Gedeão - Rómulo de Carvalho - em social-democracia). Ainda hoje a sei de cor, palavra por palavra. E agradeço a estas novas tecnologias a possibilidade de transmitir aos meus filhos estes valoresem que eu acreditava aos dezoito anos. Para além da beleza da balada. Ouçam a música aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=iqUI5NyDJmQ&feature=related