quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Booker Prize

Foram recentemente anunciados os seis livros que formam a shortlist do Man Booker Prize deste ano.

Estabelecido em 1969, o Man Booker Prize, ou simplesmente Booker Prize, que foi o seu primeiro nome, é o principal prémio literário para os romances publicados por autores originários da Commonwealth e República da Irlanda, não abrangendo apenas, entre os escritores de língua inglesa, os autores americanos. O palmarés do prémio lê-se como um «who's who» da literatura anglo-saxónica. Entre os vencedores, com efeito, encontramos desde logo quatro prémios Nobel: VS Naipaul (Prémio Nobel em 2001, Booker em 1971 com In a Free State); JM Coetze (PN em 2003), Nadine Gordimer (PN em 1991, laureada em 1974 com The Conservationist) e William Golding (PN em 1983 e vencedor do Booker com Rites of Passage em 1980). Coetze é, aliás, um dos apenas dois autores que ganhou o prémio por duas vezes, a primeira em 1983, com The Life and Times of Michael K e a segunda em 1999, com esse extraordinário livro que é Disgrace. O outro é Peter Carey: 1988 - Oscar and Lucinda e 2001 - The True History of the Kelly Gang.

Mas, em matéria de autores, a procissão ainda vai no adro. Temos ainda, por exemplo, John Banville (2005) e Alan Hollinghurst (2004), respectivamente, com The Sea e The Line of Beauty que cito por ter gostado de ambos, embora imensamente diferentes, e por terem sido recentemente traduzidos para português; Margaret Atwood (2000 - The Blind Assassin, que me encantou mesmo se o comprei, um pouco por acaso, no aeroporto de Londres), Ian MacEwan (1998 - Amsterdam, provavelmente não o seu melhor romance), Arundhati Roy (1997 – com o famoso The God of Small Things), AS Byatt (1990 - Possession, adaptado ao cinema, num filme que se esquece facilmente), Kingsley Amis, glória da literatura inglesa, pai de Martin Amis (1986 - The Old Devils, que não li nem tenho) e Anita Brookner (1984 - Hotel du Lac, que não li mas tenho). A título de curiosidade refiro o nome do primeiro premiado, que não conheço: PH Newby com Something to Answer for.

Salman Rushdie ganhou o prémio em 1983 com Midnight’s Children. Merece uma referência especial porque, numa votação realizada em 1993, por ocasião da entrega do 25º Booker, este romance foi considerado o melhor de todos os laureados: uma espécie de Booker dos Bookers. Aliás, desde então, e em minha opinião, apenas um livro poderá disputar-lhe essa honra: Disgrace.

Dois outros autores de que gosto particularmente foram também premiados, em anos curiosamente seguidos: Iris Murdoch, em 1978, com uma novela que fez sensação na altura e que é ainda hoje considerada como uma obra emblemática dos anos 70 (The Sea, the Sea, que faz parte dos meus projectos de leitura para este ano); e, um ano antes, Paul Scott com Staying On. Paul Scott é o autor dos quatro romances que compõem The Jewel in the Crown, espécie de grande ópera organizada à maneira de Wagner em torno dos últimos anos da presença britânica na Índia, que foi magnificamente adaptada para televisão há aproximadamente vinte anos, com a extraordinária Peggy Ashcroft como protagonista (Entre parênteses, digo-vos que Peggy Ashcroft ganhou o óscar para a melhor actriz secundária em 1984, pelo seu papel em A Passage to Índia, dirigido por David Lean e adaptado do romance homónimo de EM Forster – precisamente no ano em que o Óscar de melhor filme foi ganho por Amadeus, de Milos Forman. Um dia, contar-vos-ei uma história engraçada a respeito da minha reacção a estes dois filmes.)

Contrariamente ao Goncourt francês, o prestígio do Booker mantém-se intacto. Com efeito, os pequenos negócios entre editoras que contribuíram para destruir a imagem do Goncourt estão ausente do prémio atribuído além Mancha.

Este ano, a longlist foi anunciada a 14 de Agosto. Nela encontravam-se os seguintes livros:

Peter Carey - Theft: A Love Story
Kiran Desai - The Inheritance of Loss
Robert Edric - Gathering the Water
Nadine Gordimer - Get a Life
Kate Grenville - The Secret River
MJ Hyland - Carry Me Down
Howard Jacobson - Kalooki Nights
James Lasdun - Seven Lies
Mary Lawson - The Other Side of the Bridge
Jon McGregor - So Many Ways to Begin
Hisham Matar - In the Country of Men
Claire Messud - The Emperor’s Children
David Mitchell - Black Swan Green
Naeem Murr - The Perfect Man
Andrew O’Hagan - Be Near Me
James Robertson - The Testament of Gideon Mack
Edward St Aubyn - Mother’s Milk
Barry Unsworth - The Ruby in her Navel
Sarah Waters - The Night Watch

Excusez du peu: um Prémio Nobel, dois antigos vencedores, e um conjunto de autores que são do que melhor se faz pelas bandas da literatura de língua inglesa – e, dada a sua extraordinária vitalidade, isto praticamente equivale a dizer literatura do mundo.

Um comentário breve sobre esta longlist para assinalar o belo livro de Claire Messud, The Emperor’s Children, que acabei de ler domingo passado. Já tenho quase pronto um comentário que porei aqui no blogue (mas trata-se de um livro complexo, debaixo de uma aparência extrema e enganosamente simples e, por isso, a crítica demora mais tempo a estruturar.)

Mas já terão adivinhado que este romance não passou à fase seguinte. Com efeito, a shortlist foi anunciada a 14 de Setembro, é a seguinte:

Kiran Desai - The Inheritance of Loss
Kate Grenville - The Secret River
MJ Hyland - Carry Me Down
Hisham Matar - In the Country of Men
Edward St Aubyn - Mother’s Milk
Sarah Waters - The Night Watch

Algumas notas breves:

1) O grande favorito, David Mitchell, foi eliminado. Não é, do meu ponto de vista, grande perda. Li Cloud Atlas, que me deixou frio. Não me apeteceu pegar neste novo livro.

2) Ao ver o seu novo romance Theft: a Love Story eliminado este ano, Peter Carey perde a possibilidade de se tornar imediatamente no único autor a ganhar o prémio por três vezes.

3) Se têm seguido este blogue, já conhecem o meu entusiasmo pelo romance de Sarah Waters, que é, aliás, o favorito dos apostadores britânicos – gente que aposta por tudo e por nada. Mas reconheço que não li nenhum dos outros: trata-se, assim, no máximo, de uma ínvia preferência. E garanto-vos que lerei o premiado, seja ele qual for.

O vencedor será anunciado a 10 de Outubro. Marcamos encontro para essa altura, com as novidades?

2 Comments:

Blogger Carlos said...

http://observer.guardian.co.uk/review/story/0,,1890228,00.html

leste isto? interessante o ranking seja US que UK.

10 outubro, 2006 12:46  
Anonymous Anónimo said...

Carlos, Não consigo seguir o link mas calculo que seja o artigo que faz uma classificação dos melhores romances (novels) americanos, por um lado, e anglo-saxónicos não americanos (a partir de 1980), por outro, com o seguinte resultado:
Melhor romance americano: Beloved de Toni Morrison
Melhor dos outros: Disgrace de JM Coetze.
Acho que já sabes a minha opinião sobre Disgrace: um dos melhores livros que jamais li. Beloved é outro esplendor. Por uma vez, concordo com estes resultados (mesmo tendo em conta todas as dificuldades «metodológicas» deste tipo de exercício e mesmo se pode duvidar-se do interesse destas classificações).

12 outubro, 2006 12:10  

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