quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Trezzu e Clara

Este é o cartão que a Teresinha desenhou para a tia Clara. Que dizer? Apenas que as pessoas morrem mas ficam um pouco por cá, na nossa memória, a fazer parte do conjunto de afectos sem os quais nada somos. Faz-nos falta a Clara, perdemos o seu inimitável sentido de humor, a sua presença sólida, a constância da sua amizade. Mas há uma pequena parte dela que continua a viver, uma parte infelizmente muito pequena, que não chega, nem de longe, para nos satisfazer, mas mesmo assim um pedaço dela a que podemos recorrer nos dias de maior cansaço ou tristeza para falarmos outra vez, como nesses tempos felizes em que, como dizia o poeta, ninguém estava morto. Este cartão da Teresinha comoveu-me imenso principalmente porque significa que a imagem da Clara permance na sua sobrinha, que tinha apenas treze anos quando ela morreu. O que dá bem a ideia da pessoa que a Clara era. Neste ano que, para a minha família, foi ano de luto, esta certeza de que as pessoas ainda ficam connosco - sem esquecer as saudades, o degosto, as lágrimas - é reconfortante.