sexta-feira, 22 de junho de 2007

Os 100 Melhores Filmes Americanos de Sempre

O American Film Institute publicou uma nova lista (a anterior datava de 1988) dos 100 melhores filmes americanos de sempre. Estes exercícios têm sempre alguma coisa de artificial mas o que distingue esta lista é que ela é elaborada com base na opinião de mais de 1500 realizadores, produtores, actores, argumentistas, críticos e outras pessoas ligadas ao cinema. Encaremo-la, assim, como uma reflexão sobre o cinema feita, principalmente, por quem o faz. E talvez como uma reflexão sobre o imaginário americano.

Citizen Kane, o primeiro filme de Orson Welles, realizado em 1941, continua em primeiro lugar. Em segundo, por troca com Casablanca (Michael Curtiz - 1942), surge agora The Godfather (I), de Francis Ford Coppola (1972) - notícia que o Dico vai receber às gargalhadas. Raging Bull, de Martin Scorcese (1980), que em 1988 aparecia em 24ª posição, é agora quarto. Seguem-se, sem surpresas, tendo em conta que estamos na América, Singing in the Rain, Gone with the Wind e Lawrence of Arabia. Schindler’s List vem em 8º lugar. De um ponto de vista crítico, esta é a principal nota dissidente na classificação dos primeiros mas correspondendo, como disse atrás, pela exaltação do herói solitário, capaz, contra tudo e contra todos, de resistir à tirania, a uma certa visão do sonho americano. Vem depois, em nono lugar, Vertigo, de Hitchcock (1958). The Wizard of Oz (Victor Fleming - 1939) fecha a lista dos dez primeiros. Em 11º, surge o maravilhoso City Lights de Charlie Chaplin.

Dos filmes realizados depois de 1988, apenas quatro vieram juntar-se aos melhores mas lamento dizer que nenhum deles é particularmente exaltante: 50º: The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (que é o terceiro filme da trilogia e, convenhamos, o melhor dos três); 77º: Saving Private Ryan; 83º: Titanic; 89º: The Sixth Sense; e 96º: Do the Right Thing, de Spike Lee, onde, se bem se lembram, o calor do dia mais quente do ano leva a uma explosão de violência. Com excepção do primeiro e do último, nenhum me parece digno de entrar em qualquer lista que seja de melhores filmes, americanos ou outros.

Demonstrando alguma evolução nos gostos do júri ou, em parte, o facto de a maioria dos filmes a seguir citados ter entretanto saído em edição DVD e, por isso, estes se encontrarem actualmente mais acessíveis, são agora mencionados os seguintes filmes anteriores a 1988 mas que não se encontravam na lista desse ano: o fantástico filme mudo de Buster Keaton The General (1927) na 18ª posição; o clássico, também mudo, Intolerance, de David Wark Grifith (1916 - 49º), Nashville, de Robert Altmanm (1975 - 59º), Spartacus, de Stanley Kubrick (1960 - 81º; 2001 - A Spade Odissey, é o filme de Kubrick melhor classificado, em 15º), e Toy Story, dos estúdios Pixar, que mereceria melhor classificação (1995 - 99º). Se não estou em erro, aliás, Toy Story é agora um dos únicos dois desenhos animados da lista, juntamente com Snow White and the Seven Dwarfs (34º), de Walt Disney, já que Fantasia, também de Disney, desta vez ficou de fora.

Pelo contrário, e ainda em relação a 1988, desapareceram os seguintes filmes: Doctor Zhivago, de 1965, de David Lean (o realizador ingles de Lawrence of Arabia e A Passage to India); Close Encounters of the Third Kind, de Steven Spielberg (1977); e Dances With Wolves, com Kevin Costner (1990). Quanto a este último e, mas em menor grau, também quanto aos dois outros, não se precebe, aliás, como encontraram lugar na lista de 1988. Desapareceram escandalosamente Amadeus, de Milos Forman (1984), principalmente se pensarmos que filmes como Titanic ou Ben Hur (que particularmente detesto) ainda lá estão; e The Jazz Singer, de Alan Crosland (1927), com o cantor Al Jolson, o primeiro filme sonoro da história do cinema que, só por isso, mereceria figurar entre os melhores.