segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pericardite, "Tamponnade"

Bom, afinal as coisas não se passaram como previsto. Preparado para a quimioterapia, apanhei com uma pericardite (do tipo que, em francês, se chama "tamponnade"). Coisa que podia ter sido grave e que explica a minha tosse anterior e, principalmente, a sensação de asfixia com que andava. O sinal mais evidente ocorreu quando tentaram fazer-me um scanner. Quando me deitei, dei um pulo, levantei-me de chofre: parecia que ia sufocar ali mesmo. (O Carlos explicou-me que era o coração a reagir por estar coberto de líquido. Quando estamos de pé, ou sentados com as costas direitas, a sensação atenua-se. Por isso, dormia quase sentado). Nem voltei ao quarto: arrastaram-me para os cuidados intensivos cardíacos e, uma meia hora depois, espetavam-me uma agulha fina no peito, para passar um cateter de onde correu a quantidade para mim enorme de 1,4 litros. Mas tudo se resolveu e, no dia seguinte, lá saí daquela unidade onde a minha presença, para mal dos meus poucos pecados, começa ser frequente.

Resolvido este contratempo, já respirando (quase) como um menino pequeno, convencido de que não tenho nada, a levantar-me da cama (quase) aos pulos, o que, Carlos ainda dixit, é perigoso, fiquei no hospital, onde estou a escrever isto, não sabendo quando farei o segundo tratamento da quimioterapia. Pode ser hoje ou poderei voltar noutro dia. A minha médica, certamente reconfortada pelas férias de três semanas que tirou, dar-me-á notícias mais tarde. Até já.

5 Comments:

Blogger Joaquim Pinto da Silva said...

"Quando o carácter adoece e se dilui, é natural que o espírito de iniciativa dê lugar ao imitativo ou simiesco. A degenerescência inferior apaga os valores adquiridos que se conservam, em nós, como que num estado de perpétuo esforço. Sempre que o homem hesita na sua humanidade, aparece o macaco. Este persegue-nos constantemente, vigiando-nos, e aproveitando o primeiro descuido da nossa pessoa, para se lhe substituir."
(Teixeira de Pascoaes)
Porque não creio que em ti o macaco tenha futuro.
Com um abraço.
Joaquim

13 setembro, 2010 11:50  
Blogger Gubi said...

Mais um susto para a colecção;-) Deixa-te cuidar, que é também uma forma de mimo! daqui, fôlego e um beijinho

13 setembro, 2010 13:58  
Anonymous Anónimo said...

não sei fazer comentários a "Pericardite, Tamponndad"...não sei o que escrever quando o mistério da vida torna-se mais mistério...
sei que penso em ti.
em ti. Na Vanda. em ti.
Em Outubros doces de há muito tempo...em verões com bébés lindos a dar os primeiros passos...em passados que regressam num tempo de memórias...
em conversas que nunca tivemos mas que ouvi, em musicas que li aqui no teu blogge, em vivências que acompanhei...no crescimento de dois meninos lindos..em baptizados, jantares, casamentos e velórios...
e falar da morte sempre foi tabu...não se fala do que não se conhece...
e agora num tempo que queria que não fosse este...pois imagino-te ainda sentado num jardim ao sol, gozando netos, e um bisneto...queria dizer mil coisas e nada saí...
um respirar fundo por cada etapa, cada hora que passa,um olhar atento e generoso por poderes sentir-te, um olhar amigo de uma Lisboa doce que se despede do verão..
sem nunca me despedir
joana

13 setembro, 2010 20:27  
Anonymous Teresa Verde said...

Zé Pedro
Ontem estive que tempos a reler os seus posts, até os mais antigos. Está sempre, sempre, no meu pensamento. E admiro-lhe a força e a garra a lutar! Mais tarde, há-de dizer aos seus netos que também foram eles, que também foi por eles toda esta batalha!
Um grande beijinho
Teresa

13 setembro, 2010 21:52  
Anonymous Zé Pedro said...

Teresa,
As suas palavras comoveram-me. Com efeito, esta luta, esta vontade de ficar por cá, tem muito, quase tudo, a ver com as minhas filhas, o meu filho e as minhas netas. Elas e ele são a minha força, a minha garra, o meu ânimo – e, mais tarde, tão mais tarde quanto eu puder, serão o meu legado, aquilo que de mim ficará. E tenho a certeza de que ficará muito porque as amei muito. Sei que viverei nelas.
E obrigado por pensar em mim. O apoio dos amigos, mesmo discreto, mesmo de longe, acompanha-me, encoraja-me e fortalece-me.
Um grande beijinho.

14 setembro, 2010 04:57  

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