quarta-feira, 10 de maio de 2006

Interlúdio

Há já dois dias que aqui não escrevo. Para além do feriado do dia 9 (dia de uma Europa cujo cansaço é evidente) – e os dias feriados, numa casa com dois adolescentes, são os mais cansativos – veio o dia de anos da Vanda (a 10) com jantar num restaurante tunisino perto de casa. Tenho continuado a leitura de Murakami (com piscadela de olhos à Ana, que também anda a lê-lo). E, ao mesmo tempo, comecei um livro de história bastante interessante («The Great Divergence» de Kenneth Pomeranz), que mostra que, no final do século XVIII, a diferença económica entre a Europa e a China não era assim tão grande que justificasse o salto em frente dado pelos europeus na conquista do mundo; e, assim, atribui o «milagre europeu», expressão consagrada mas que não é do agrado do autor, principalmente, e para além de ao acesso fácil a novos meios de energia, como o carvão, à abundância de terra e ao acesso a formas de gestão do espaço e da terra, nomeadamente das florestas, introduzidas pela expansão colonial – num resumo muito simplificado de um argumento complexo mas a ter em conta em certos debates actuais, lusos e não só, sobre a pretensa superioridade da civilização europeia. Continuo a actualização do meu iPod, o que me permite ir passando em revista os principais discos da minha colecção de clássicos: neste preciso momento em que escrevo, escuto o «Concerto para Piano» de Schumann, na interpretação de Maria João Pires, com Claudio Abbado a dirigir a Orquestra de Câmara da Europa. Maria João Pires não é Martha Argerich (mas quanta gente é Martha Argerich?) mas gosto muito desta sua interpretação. Dou alguma atenção – a merecida – à Comissão. Tenho que telefonar ao meu genro João a perguntar-lhe quem será o novo treinador do Benfica. Falo com os meus irmãos, penso na minha Mãe e tenho saudades de ver a minha neta. Em resumo: estou bem.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

só não percebi o que é que a terra tem a ver, dado que a China é um dos mais extensos países do mundo.
ele não fala da "democratização", mesmo que tão só burguesa, da sociedade? e da importância da manutenção do estado feudal na China?
mah, não me parece grande coisa esse livro...

12 maio, 2006 11:02  
Blogger José Pedro Pessoa e Costa said...

Tratava-se de um resumo (breve e imperfeito) de um argumento muito complexo. A ideia de base é que a Europa apenas conseguiu sustentar o seu desenvolvimento excepcional porque adquiriu novas terras através da expansão colonial e geriu melhor as existentes. Se isso não tivesse acontecido, a pressão ecológica resultante do aumento da população e da crescente pobreza de terras disponíveis (já havia muito poucas florestas para desbravar) teria impedido o crescimento, pelo menos com a expressão quantitativa e qualitativa que assumiu. É claro que a «superstrutura» política, ideológica, cultural e científica, explicam também o progresso europeu. Mas é importante (pelo menos, em termos de debate e para pôr um termo a esta conversa sobre as «melhores» civilizações) compreender que o «milagre europeu» não estava preordenado pelo nosso destino de «povo (mais) civilizado» mas correspondeu a uma evolução que podia, se as condições fossem outras, ter-nos levado a outras paragens. Quanto à manutenção do Estado feudal na China, o que Pomeranz tenta demonstrar (mas este ponto é manifestamente controverso) é que as coisas não eram tão claras como nos têm feito crer. No mesmo sentido, vai um livro mais geral, que acaba de ser traduzido em francês, mas que podes ler na versão original: «The Birth of the Modern World, 1780-1914: Global Connections and Comparisons). Um abraço.

12 maio, 2006 11:43  
Anonymous Anónimo said...

sobre os argumentos de preordenação, superioridade, etc etc nem sequer me quero pronunciar, porque o debate me parece ineutil: eu fiquei marcado pela leitura de um livro do stephen jay gould, what a wonderful life, que defende o acaso como o peordenador de grandes mudanças...
creio que a diferença de ponto de vita está no uso do também: para mim é sobretudo uma questão de liberalismo económico e de impacto da revolução francesa.

12 maio, 2006 11:44  

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