Javier Cercas - À Velocidade da Luz (2)
Nestas coisas de crítica, esforço-me por manter uma certa modéstia. O mundo está cheio de gente com imensas certezas e, felizmente, não me conto entre elas. Mas, por isso mesmo, é gratificante verificar que, às vezes, a minha opinião é partilhada por outras pessoas.
Assim, foi com algum agrado que li o artigo que apareceu hoje no Nouvel Observateur, assinado por Frédéric Vitoux, sobre o romance À Velocidade da Luz, de Javier Cercas, que aqui comentei há alguns dias. Ele diz que este livro «confirma o talento de Cercas como narrador. Mas «quelque chose lui manque tout de même». Cercas é um universitário e esse é precisamente o problema. «Pour un universitaire, l'inteligence est un devoir. Pour un romancier, une option» (a frase é bonita, a mensagem esperada). Mas o que é importante do ponto de vista da análise do livro e em certa medida correspondendo ao que escrevi é que Vitoux reconhece que a intriga é demasiado artificial e construída: uma tese (ligeira) mais do que um romance.
Aqui fica a parte mais importante deste texto (em francês, que me faltam tempo e paciência – é meia-noite, amanhã vou de viagem, ainda tenho que fazer as malas, minhas e destes dois adolescentes que vivem cá em casa):
«A la vitesse de la lumière» confirme le talent de narrateur de Cercas. Quelque chose lui manque tout de même. On a dit qu'il était universitaire. Tout est là. Ce n'est pas un reproche – à condition toutefois de ne pas sacrifier l'émotion à l'analyse, le tremblé (sic) des personnages à la cohérence abstraite de leurs caractères, le naturel d'une intrigue à la symétrie d'une démonstration. Pour un universitaire, l'inteligence est un devoir. Pour un romancier, une option. (...) Le parallèle entre le destin de Rodney (o americano que parte para o Vietnam), les atrocités trop prévisibles qu'il accomplit au Vietnam, sa culpabilité qui le pousse au suicide, et celui du narrateur, qui se croit responsable de la mort de sa femme et de son fils dans un accident, est bien trop artificiel pour être pertinent.»
Resta-me observar, mesmo concordando com ele no essencial, que o crítico não evita uma armadilha em que Cercas, mesmo assim, não cai: a pecha dos lugares comuns e das frases feitas. Uma pena!
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