sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Três livros de Pamuk

Neve

Considerado por Pamuk como o seu primeiro livro especificamente político (mas não o são todos?), Neve conta o confronto entre dois grupos (ou mundos) antagonistas – de um lado, os nacionalistas turcos partidários de um laicismo integral e, do outro, os fundamentalistas islâmicos – tal como visto por Ka, jornalista e poeta turco que regressa ao seu país depois de doze anos passados na Alemanha. Ka é encarregado de efectuar uma reportagem sobre uma vaga de suicídios de jovens adolescentes (na maioria dos casos veladas) e, com esse objectivo, parte para Kars, cidade da Anatólia que, durante o tempo do romance, se encontra isolada do mundo por fortes nevões. Aí, Ka encontra Ipek, que conhecera quando adolescente e que está agora casada com Muhtar, ex-marxista, agora candidato às eleições pelo Partido de Deus. Pamuk faz crescer a tensão até que estala uma manifestação sangrenta que se transforma em carnificina. Ka acaba por morrer assassinado, incapaz de encontrar um caminho por entre as contradições de um país dilacerado entre grupos incapazes de se compreenderem e aceitarem.



O Meu Nome é Vermelho

A história, contada em cinquenta e nove curtos capítulos por doze narradores – entre os quais duas vítimas de assassinato e vários objectos inanimados – desenrola-se em Istambul, no século XVI. Para celebrar o milénio da Hégira, o Sultão Morad III encomenda um manuscrito, ordenando que seja ilustrado por vários famosos iluministas. Mas estamos num tempo em que a arte da iluminura persa (celebrada por Behzad, cuja lenda afirma que, depois de realizada a sua obra-prima, vazou os seus olhos para não contemplar obras menores) começa a sofrer a influência da arte ocidental, que vai introduzir a perspectiva e o retrato. Duas personagens são assassinadas e Black, apaixonado por Shekure, vai tentar descobrir o ou os assassinos. Mas estamos longe de uma história linear e o romance desenvolve-se através de diferentes temas e em diferentes níveis: evocação poderosa da cidade, referências à história da pintura, oriental e ocidental, enigma policial.



O Livro Negro

A neve de Istambul apaga os passos de Galip da mesma forma que o tempo varre a memória de sua mulher, Ruya, que partiu abruptamente – partida ou desaparecimento? – deixando atrás de si dezanove palavras que nada dizem. As recordações de Galip traça-nos, de Ruya, um retrato impreciso: sabemos que falava pouco, vivia quase reclusa no pequeno apartamento que ambos partilhavam e lia livros policiais; mas a sua personalidade dissipa-se por sobre a bruma e no frio dos dias de Istambul. Com Ruya, desapareceu o seu primo Djélâl, jornalista anti conformista que escrevia uma coluna original num quotidiano da capital (os textos de Djélâl, que formam capítulos dispersos ao longo do livro, constituem verdadeiras obras-primas que Galip relê para procurar indícios que lhe permitam descobrir o seu paradeiro.) Perdido no labirinto da grande cidade, a busca de Galip é uma percurso iniciático, em busca de uma impossível compreensão.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

tantos livros, tantos livros, acudam-me. Como vou ter tempo? Impõe-se uma redução do tempo de trabalho! É isso.

13 outubro, 2006 20:50  

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