Nobel de Literatura para Orhan Pamuk
Orhan Pamuk, escritor turco de 54 anos de idade, ganhou o Prémio Nobel de Literatura de 2006.
De acordo com o comunicado da Academia de Estocolmo, e numa linguagem algo críptica, Pamuk, «na sua procura da alma melancólica da sua cidade natal (Istambul), descobriu novos símbolos para o choque e cruzamento das culturas.» Como a Academia depois realça (e de forma mais clara), o facto de o romancista ter experimentado, ao longo da sua infância e adolescência e no interior da sua própria casa, a substituição do modelo familiar otomano tradicional por um estilo de vida ocidental constituiu uma influência poderosa na sua obra.
Esta decisão era de certo modo esperada, não somente por causa do enorme talento literário de Pamuk, mas ainda porque, recentemente, o escritor se viu envolvido em controvérsia no seu país, em razão das suas corajosas tomadas de posição no que respeita ao genocídio arménio e ao problema curdo. Por essas declarações, feitas em 2005, chegou a ser perseguido judicialmente – mas as acusações foram mais tarde retiradas.
Aliás, é curioso verificar que a atribuição do Nobel a Pamuk ocorre no mesmo dia em que, em França, numa decisão contestável, a Assembleia Nacional aprova uma lei que transforma em crime a negação do genocídio arménio, perpetrado em 1915 pelos «Jovens Turcos», um movimento revolucionário que depusera o califa e constituiria o berço da revolução de Ataturk, um homem implacavelmente laico e ocidental, considerado o pai da Turquia moderna. Embora a realidade do genocídio não ofereça historicamente dúvidas, a Turquia, como país, e uma grande parte da sua população, recusam-se ainda a admiti-lo.
Das novelas de Pamuk que li, O Livro Negro é a história de um marido que procura a sua mulher desaparecida, numa busca estranha, complicada, com passagens geniais; O Meu nome é Vermelho é um romance histórico que lida com um assasinato motivado por querelas ligadas à representação da figura humana no Islão e, por esta via, com os contactos entre civilizações diferentes e as suas influências recíprocas; e Neve, o último a ser publicado, conta o regresso ao país (e a uma cidade em particular, isolada por enormes nevões) dum poeta turco exilado na Alemanha, numa altura em que estalam conflitos entre islamistas e laicos – que não são, aliás, tão simples de resolver como pensam alguns apressados comentadores ocidentais.
Eu definiria Pamuk como um escritor de espaços fechados e angustiantes, cujas obras parecem envoltas em bruma e nos deixam uma sensação de amargura e de incompletude. Mas é um grande escritor que conheço relativamente bem e de que gosto muito e, por isso, é com imenso agrado que o vejo consagrado pelo Nobel.
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