quarta-feira, 4 de julho de 2007

Libertação de Alan Johnston

Alan Johnston, repórter da BBC, foi libertado depois de 114 dias passados em cativeiro. «É formidável estar livre», disse. «As últimas semanas foram as piores da minha vida. Era como estar enterrado vivo.» Várias vezes pensou que podia morrer: os seus captores ameaçaram-no dizendo-lhe que lhe cortariam a garganta «como a um carneiro.» «Estava nas mãos de gente muito perigosa e imprevisível. Não sabia como as coisas acabariam e pensei que teria cinquenta por cento de possibilidades de escapar com vida. (Os meus captores) falavam em matar-me ou em torturar-me e bateram-me.»

Durante três meses, Johnston não viu a luz do dia. Os seus carcereiros eram muitas vezes «duros e desagradáveis.» Esteve detido em vários locais diferentes: uma vez, num quarto com casa de banho; outra vez, com possibilidade de utilizar uma cozinha ao lado do quarto, com um frigorífico. Os raptores pertenciam a um grupo djihadista. Finalmente, Johston foi libertado com a ajuda do Hamas.

Esta manhã, ao ter conhecimento da sua libertação, lembrei-me de Jean-Paul Kaufmann, que esteve em cativeiro durante três anos, no Líbano, entre Maio de 1985 e Maio de 1988. Recordo as imagens da sua libertação e o seu ar, ao mesmo tempo espantado e feliz, quando viu o seu filho, três anos mais velho, diferente, crescido. Numa entrevista recente, Kaufmann diz que se considera como um sobrevivente, o que o leva a apreciar de forma diferente cada momento da vida, cada minuto roubado a essa morte que viu perto. Mas, ao mesmo tempo, há algo que se quebrou definitivamente. Existe uma linha que divide a sua existência «entre um antes e um depois.» Nunca esquecerá: a recordação do cativeiro é «como uma cicatriz.» Pode-se viver com ela mas ela não desaparece.

Depois de libertado, Jean-Paul Kaufmann escreveu um livro sobre os últimos dias de Napoleão, deportado na ilha de Santa Helena sem esperança de regresso à Pátria, associando uma investigação histórica a uma reportagem sobre a sua visita à Santa Helena dos nosso dias, misturando passado e presente, livro de História e reflexões pessoais. Santa Helena fica a mais de mil e oitocentos quilómetros da costa mais próxima. Ainda hoje, os seus habitantes se comportam, em certos casos, como prisioneiros ou pelo menos como exilados. Napoleão sabia que morreria lá. O que dá particular valor ao livro é a compreensão íntima que Jean-Paul Kaufmann é capaz de transmitir relativamente à experiência de cativeiro que viveu o imperador destituído. O livro chama-se La Chambre Noire de Longwood. Vale a pena lê-lo!