Leituras de Verão
Que vou ler neste Verão? A minha lista deixará muita gente surpreendida. Nela, só obras de, ou sobre, o século XIX, todas em releitura.
Balzac – Illusions perdues; Splendeurs et misères des courtisanes; se possível, algumas das Nouvelles
Stendhal – Le Rouge et le noir (Se me sobrar algum tempo depois de Balzac. Escolhi Le Rouge et le noir por ser, de todos os romances de Stendhal, que é uma espécie de autor culto para mim, aquele em que sempre senti maior dificuldade em «entrar»)
Hobsbawn – Para me dar o pano de fundo: The Age of Revolution, The Age of Capital, The Age of Empire
Porquê esta escolha? O principal responsável é Stephen Vizinczey, escritor e crítico nascido na Hungria em 1933. Exilado forçado, depois da insurreição de Budapeste em 1956, instala-se no Canadá e torna-se conhecido em França, a partir de 2001, com o sucesso do seu livro Eloge des femmes mûres: les souvenirs amoureux d'Andres Vajda – um romance de iniciação onde, através da recordação das mulheres «maduras» que Andres e/ou o autor amaram, assistimos à sua evolução, à sua passagem de de rapaz a homem e a velho, numa Hungria de um certo desespero. Mas falo de Vizinczey por causa de outro dos seus livros: Vérités et mensonges en litératture. É por ele que, este Verão, levo comigo Balzac e Stendhal em vez de autores modernos. No primeiro artigo desta recolha de crónicas literárias, Vizinczey dá dez conselhos a escritores. O principal (que já era também o de Calvino) é o de ler, reler e reler ainda os autores clássicos. E, para Vizinczey, o século XIX é o século do romance francês e russo. Os romancistas ingleses, mesmo Dickens, não têm segundo ele a mesma dimensão, o mesmo «souffle épique» dum Balzac, dum Stendhal, de Pouchkine, Gogol, Tolstoï ou Dostoïevski. Devemos lê-los sempre e em toda a parte. E, claro, em tradução se não pudermos lê-los no original. Para Vizinczey, isso não constitui problema. Numa frase extraordinária, ele diz que o maior dramaturgo francês é Shakespeare em tradução francesa assim com os maiores romancistas ingleses são os franceses e russos que referi atrás em tradução inglesa.
Por isso, parto para o Algarve com esta gente. É boa companhia.
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