Páre, escute e olhe - Uma pequena ideia para Portugal

Mas o que principalmente me aflige é a forma como essas senhoras e esses senhores pensam saber tudo. Parecem todos formados na escola do «Nunca tenho dúvidas e enganar-me está fora de questão», que foi, noutros tempos, apanágio de Cavaco Silva (e mesmo assim, quando pronunciou estas palavras que fizeram data, o actual Presidente teve o cuidado de confessar que, às vezes, embora muito raramente, até ele tinha dúvidas!)
Vem isto a propósito doutra crónica, dum jornalista cujo nome esqueci, também publicada no Diário de Notícias, sobre o limite de velocidade de 50 km/hora recentemente imposto em certas vias, avenidas e ruas de Lisboa. Embora tendencialmente favorável a medidas como esta, concedo que esta questão dos limites de velocidade, e de fixá-los nos 50 km/hora, merece discussão - não é evidente que tenha sempre razão quem os defende. A mim parece-me, mas sublinho que se trata somente duma opinião, que a maioria dos estudos mostra que a limitação de velocidade é geralmente acompanhada duma importante diminuição do número e da gravidade dos acidentes rodoviários; e, por isso, que é batalha perdida a dos que se lhe opõem porque, nos tempos de hoje, basta que uma só morte seja atribuída a excesso de velocidade (e como negá-lo?) para que, mais tarde ou mais cedo, todos tenhamos que nos habituar a conduzir mais devagar. Mas tudo isto deve ser discutido e pesados os prós e contras de cada posição! Agora, o que é seguramente errado é que alguém trate uma questão como esta na base duma imputação de motivos financeiros à Câmara de Lisboa (as multas serviriam, segundo o jornalista, para encher as caixas vazias do município chefiado por António Costa), usando frases bombásticos do género «abaixo os ladrões» e recusando sequer considerar a possibilidade de que a medida em causa possa ser ditada por motivos racionais e ter efeitos positivos. Eu, por exemplo, assisti na televisão a uma conversa com um oficial da Brigada de Trânsito que dizia nada ter a opor aos GPS que indicam a posição dos radares porque o objectivo principal da instalação destes era o de obrigar os automobilistas a reduzir a velocidade - o que seria conseguido mesmo se eles fossem advertidos da sua posição pelo sistemas de localização geográfica.
Tudo isto para dizer que, em Portugal, temos certezas a mais! E também pressa: veja-se a decisão recente do Ministério da Administração Interna de impor o controlo de drogas aos automobilistas sem exceptuar de tal controlo, por exemplo, calmantes e antidepressivos que muitas pessoas tomam por indicação médica – só para ter que vir a corrigir-se, de forma algo ridícula poucos dias depois. Há a ideia – que Cavaco Silva, enquanto Primeiro-Ministro muito fez para firmar nas mentes lusitanas – que o pior de tudo é a inacção. É como as reformas, pelo menos na linguagem e no pensamento de Sócrates: elas são o contrário do imobilismo e, por isso, sempre positivas (favorecem a criatividade, a inovação, o espírito de iniciativa e o empreendedorismo – palavra que felizmente não existe em português mas corre o risco de ser criada por repetição abusiva!) Ora, muito ganhariam os portugueses se parassem uns tempos para pensar e consagrassem alguns momentos da sua vida a ouvir os outros. (Quem me conhece, poderá dizer: «Bem prega Frei Tomás!» Mas isso é outra conversa.)
Parar, escutar, olhar! Quem diria que o dístico das passagens de nível da CP teria aplicação no domínio da política nacional?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home