Epitáfios
Estou a preparar um artigo sobre Pavarotti, que conto completar durante o fim-de-semana, mas surgiu-me de repente o temor de que este blogue se esteja a tornar numa espécie de resenha de epitáfios… Uma espécie de imitação da leitura das páginas de necrologia dos jornais diários a que, segundo se diz, os mais velhos têm tendência para se dedicarem à medida que envelhecem – como forma de garantir que estão vivos e sobreviveram a muito boa ou má gente. Tenho a ideia de que já escrevi aqui mais artigos sobre pessoas mortas do que sobre pessoas vivas. Vou tentar mudar: durante alguns tempos, depois de Pavarotti e Maria Callas (já acrescentei mais um nome ao rol), só escreverei sobre pessoas vivas. Mas confesso um certo embaraço. Não me vêm nomes decentes à cabeça. Será que as pessoas que atingiram certa notoriedade só me interessam depois de mortas? Isto pode ser sinal de bom feitio (esqueço-lhes facilmente os defeitos e lembro-lhes estimadamente as qualidades) ou, pelo contrário, pode denotar uma deformação de carácter de que, a ser verdade, eu deveria envergonhar-me.
Eis o tipo de pensamentos que resultam de ser sexta-feira e eu estar na Comissão, a ver passar o tempo esperando, como bom funcionário, a hora de saída que teima em demorar, com o dia escuro a entrar-me pela janela e as notícias dos jornais tristonhas e cinzentas (ou desoladoramente negras, como a possibilidade de que se fala agora e em que me recuso a acreditar de Kate McCann ser suspeita na morte da sua filha.)
1 Comments:
Odes à Vida versus Epitáfio! Tem de facto jeito para o género página necrologica, mas acho que estará no bom caminho para praticar mais hinos à Vida, a alegria de viver. E tudo uma questao de prática e sobretudo, acreditar...
Enviar um comentário
<< Home