quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O povo de Sócrates

Depois da morte do meu irmão, tenho prestado pouca atenção às notícias que vêm de Portugal. Mas, ao compulsar jornais antigos, dei com uma informação segundo a qual, numa cerimónia de balanço e perspectivas do «Simplex» – Programa de Simplificação dos Procedimentos da Administração Pública, o Primeiro-Ministro teria dito que confiava nos portugueses.

Embora eu pensasse, ingenuamente, que as coisas se deviam passar exactamente ao contrário, com os portugueses a confiar no Governo e não este neles, fico descansado. Ao contrário do que previa Brecht para a desaparecida RDA (em tempos que se acreditavam ultrapassados), o povo não será dissolvido. Valha-nos isso.

Resta acrescentar que, na dita cerimónia, foram apresentadas nada menos do que 180 medidas com o objectivo de simplificar procedimentos, o que levanta logo algumas dúvidas sobre o sucesso duma iniciativa que, para tornar as coisas fáceis, utiliza métodos tão complicados. Algumas dessas medidas agrupam-se num pacote chamado «Simplex sénior» que, como o nome indica, se dirige aos cidadãos mais velhos e que se baseia essencialmente na sua reconhecida capacidade em utilizar computadores e sistemas de mensagens electrónicas. E eu que pensava, como antigamente o Ministro Mariano Gago, que esta coisa da iliteracia informática era um problema em Portugal. Saliento ainda que uma personagem de que não recordo o nome veio à televisão dizer que mesmo estes cidadãos mais idosos que não saibam utilizar computadores têm sempre alguém na família que o pode fazer por eles. E eu que pensava, como antigamente o Ministro Vieira da Silva, que um dos problemas principais dos mais velhos era a solidão em que tantas vezes se encontram. Estes problemas devem ter sido entretanto resolvidos.

Afinal, Portugal mudou mesmo muito nos últimos anos. Deve ser, precisamente, por causa do «Simplex».