Os políticos franceses e o Québec
Para a França, o Québec é uma questão complicada. Os franceses nunca se refizeram de terem perdido o que então chamavam «La Nouvelle France», em 1763, de acordo com as cláusulas do Tratado de Paris que pôs fim à Guerra dos Sete Anos e pelo qual a França, se bem que mantendo a generalidade das suas posições europeias, desistiu, em favor da Grã-Bretanha, das suas pretensões imperiais.
Em 1967, a 24 de Julho, o General de Gaulle, de visita a este Estado canadiano, lançou o seu famoso e polémico «Vive le Québec libre!». Aliás, não contente com esta frase, já por si capaz de provocar uma imediata urticária nos dirigentes canadianos, acrescentou ainda, no mesmo fôlego, «Vive le Canada français!… Et vive la France!...» A viagem e o discurso de de Gaulle deram origem à mais grave crise diplomática franco canadiana da história moderna, com o governo federal a acusar a França de ingerência nos assuntos internos do Canadá (convenhamos que com alguma razão!) e as relações entre os dois países só melhoraram depois da demissão do General que, como se sabe, não gostava de pedir desculpas.
Durante a recente campanha eleitoral para a Presidência da República francesa, foi Ségolène Royal que originou alguma polémica ao considerar, em resposta a uma questão posta por jornalistas, que o desenvolvimento do Québec e a sua relação privilegiada com a França apontavam no sentido da plena soberania desse Estado.
Agora é François Fillon que excita os ânimos ao evocar as relações entre os dois «pays»! É verdade que o Primeiro-Ministro francês emendou a mão, reconhecendo o seu erro e declarando que melhor seria se tivesse falado em nações, o que não daria lugar a discussão já que o Québec é reconhecido, pela constituição canadiana e pela sua própria, como nação distinta. Mas logo acrescentou, numa espécie de exemplo da famosa máxima portuguesa «pior a emenda que o soneto», que, para ele, pays, palavra que, em francês, segundo Fillon, tem vários significados, era qualquer lugar onde existissem paysans (camponeses). Só que, desta vez, foram os canadianos de origem francesas, os próprios québecquois, que não gostaram da graça.
Moral da história: o melhor é que os políticos franceses não visitem o Québec. Fiquem em casa – ou, nesta fase de amor americano inaugurada por Sarkozy, e antes que Bush parta para imerecido descanso, vão a Washington!
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