Júlio Pomar

Ao lado, a gravura que Pomar executou em 1979 para ilustrar a capa de O Burro em Pé, que inclui Dinossauro Excelentíssimo, de José Cardoso Pires. (Segundo me parece, a capa da edição original, de 1972, do Dinossauro Excelentíssimo, que a Wikipédia define como uma «fábula satírica que retrata a vida de Salazar, a sua ditadura e o Portugal do Estado Novo num tom bastante irónico e amargurado», era de Abel Manta. De qualquer maneira, como quase tudo o que escreveu José Cardoso Pires, vale a pena ler este livro. Entre parênteses, vi agora numa livraria aqui em Bruxelas, a tradução de De Profundis, Valsa Lenta, que escreveu depois do seu AVC, incluindo ainda o prefácio de João Lobo Antunes.)
A cara afilada do Salazar dos anos sessenta, o fato preto, são bem a mostra de como andávamos na altura: mais do que a amargura imperava o desespero. Como dizia Alexandre O'Neill:
Portugal, questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa
meu remorso,
meu remorso de todos nós.
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