Finalmente...
A prisão, ontem em Belgrado, de Radovan Karadzic só pode ser motivo de contentamento para todos quantos consideram que os crimes de guerra (e, em particular, o genocídio) não podem ficar impunes. É necessário proclamar que há limites para o que pode fazer-se antes de declaradas as hostilidades e durante estas, definindo um modo de entrar em guerra e de a conduzir que possa considerar-se como aproximadamente justo (mesmo tendo em conta que a guerra é, em si mesmo, essencialmente reprovável). Já os autores cristãos da Idade Média utilizavam este conceito de guerra justa para ultrapassar as naturais dificuldades criadas pelo 5º mandamento: «Não matarás». Eles distinguiram o jus ad bellum, que representava o conjunto de critérios que deviam ser respeitados para que a guerra pudesse ser justamente declarada; e o jus in bello, que se referia à conduta da guerra e que, na sua versão moderna, se ocupa de questões como o tratamento dos prisioneiros inimigos, a protecção das populações civis e dos não combatentes em geral, e o respeito dos direitos humanos das populações inimigas, combatentes e não combatentes, etc. O julgamento de Karadzic e a sua eventual condenação pelo Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia, em Haia, constituirá uma significativa afirmação desses princípios.
Radovan Karadicz é procurado pela sua actuação durante os conflitos que marcaram o fim da antiga Jugoslávia. Segundo as Nações Unidas, em Julho de 1995, as forças por ele dirigidas mataram pelo menos 7.500 homens e crianças muçulmanos de Srebrenica, com o único objectivo de aterrorizar e desmoralizar a população muçulmana e croata da Bósnia. Para além disso, é acusado de ter dirigido o bombardeamento de Sarajevo, com total desprezo pela morte e destruição causada às populações civis. Antes da derrota de Milosevic, de quem era amigo e aliado, Karadzic nunca escondeu, aliás, que o seu objectivo era «extirpar» da Bósnia todos os habitantes que não fosse de origem sérvia e de criar um Estado em que estes fossem a etnia única. O seu objectivo era, confessadamente, a limpeza étnica.
Se as coisas correrem como se prevê, será julgado em Haia. As suas vítimas terão, pelo menos, a (triste) satisfação de o verem julgado pelos seus crimes: assim justiça seja feita!
1 Comments:
Foi uma das boas noticias da semana!Como é que aquela criatura conseguiu viver escondido, no próprio País, tantos anos? E verdade que está irreconhecivel, mas foi certamente ajudado e encoberto por muita gente.. Até os assasínios têm protectores!
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