sexta-feira, 11 de julho de 2008

Barack Obama - Flip-flops

Os comentários de Jesse Jackson sobre Barack Obama, acusando o candidato de «talking down to black people», mesmo se seguidos por um pronto pedido de desculpas, inequívoco e sem reservas, não deixaram mesmo assim de causar perturbação na campanha do candidato democrata. E isto porque Jackson chamou a atenção para a perceptível viragem à direita de Obama, no seu esforço evidente (mas que pode trazer mais prejuízos do que vantagens) de se ancorar ao centro que é, segundo os habituais pundits, o espaço onde se ganham as eleições.

Há, com efeitos, motivos de alguma preocupação, principalmente para aqueles que pretendiam encontrar no senador democrata a inspiração para uma verdadeira mudança política nos Estados Unidos – o que, diga-se de passagem, revela provavelmente, para além de um idealismo salutar, apenas uma importante dose de «wishful thinking». Com efeito, as posições de Obama (como o Carlos já assinalou, em comentário a uma entrada anterior neste blogue) têm vindo a mudar de forma clara e (vagamente) assustadora. Quer se trate da guerra no Iraque, do controlo das armas de fogo, da pena de morte, da interrupção voluntária da gravidez, das escutas telefónicas sem autorização dos tribunais e, recentemente (o que parece ter sido a razão directa das observações de Jackson), das suas críticas ao papel dos pais negros na educação dos seus filhos, Obama, desde a sua nomeação como candidato democrata, tem de algum modo contrariado as esperanças que despertou a sua campanha nas primárias. A mim, repugnou-me particularmente a sua posição relativamente à recente decisão do Supremo Tribunal norte-americano de impedir a aplicação da pena de morte no caso de violação de crianças. (O tribunal considerou que, a ser aceite, a pena de morte apenas deveria ser aplicada no caso de crimes de homicídio: fora daí, tratar-se-ia de uma pena cruel e infamante). Ainda há pouco tempo, Obama era simplesmente contra a pena de morte – o que merecia aplauso. Agora, veio afirmar que não estava de acordo com a decisão do tribunal.

Poderá dizer-se que se trata apenas de ganhar as eleições e que tudo isto é imposto por um sistema político que obriga a um discurso macho-americano, religioso e conservador. Mas é esquecer que o entusiasmo despertado por Obama veio precisamente de ter conseguido ultrapassar este tipo convencional de saber e fazer e de ter travado contra Hillary Clinton uma batalha em que uma postura diferente, empenhada, idealista, arrastou multidões e ganhou votos. Porquê alterar uma estratégia que deu frutos, principalmente se essa mudança é feita para responder a um eleitorado que um candidato como Obama deveria desprezar?

Só nos resta esperar que tudo isto não passe disso mesmo: uma manobra eleitoralista que será corrigida quando Obama chegar à Casa Branca. Mas que é mau sinal, é! Sem dúvida!