sexta-feira, 11 de julho de 2008

Cum grano salis

Com um grãozinho de sal...

É assim que devemos entender as queixas de Ronaldo, quando concorda com o presidente da FIFA, Joseph Blatter, deixando entender que se sente como um escravo impedido de se libertar. A verdade é que, no caso de Ronaldo, a opção dilacerante que se lhe coloca é a de jogar a 100.000 euros por semana no Manchester ou a 150.000 euros também por semana no Real Madrid. Na minha opinião, nesta matéria de transferência de jogadores, as coisas deviam passar-se como em qualquer outro emprego ou actividade. Há um contrato; nesse contrato, prevê-se uma indemnização em caso de desvinculação antes do tempo; paga-se a indemnização e muda-se de clube. Os tribunais aí estão para os casos em que a indemnização acordada seja manifestamente exagerada (até porque foi normalmente fixada quando o jogador tinha menos poder negocial – em termos jurídicos, chama-se a isto, se bem me lembro, contrato leonino: da fábula de Esopo em que o leão, valendo-se da sua força, guardou para si a totalidade do veado caçado em conjunto com uma vaca, uma cabra e uma ovelha) ou, no caso contrário, quando seja manifestamente diminuta porque, por exemplo (é importante no caso do Sporting) não tome em conta as despesas do clube com a formação do jogador, no caso de estas não serem consideradas à parte, como me parece lógico. As regras que vigoram neste domínio, como em tantas outros assuntos ligados ao futebol, parecem-me opacas e desnecessariamente excepcionais.

Agora, comparar Ronaldo a um escravo? É um insulto àqueles que estiveram sujeitos – e que o estão ainda hoje, em tantos cantos perdidos do mundo – a uma verdadeira servidão. Talvez aqueles senhores não tenham reparado mas, neste caso, a comparação não é entre mais ou menos 50.000 euros por semana, mas entre a vida e a morte, a liberdade e o cativeiro. Algo diferente, não?

Não resisto a chamar a atenção para o ar inteligente de Cristiano Ronaldo na fotografia que propositadamente escolhi para ilustrar este artigo. Mas acreditem que se trata de puro ciúme: afinal, no Manchester ou no Real Madrid, ele ganha por semana quase ou mais do que eu ganho por ano. Em ambos os casos se trata do ordenado líquido! Ou seja, o dele é aproximadamente 52 vezes mais líquido do que o meu. Como querem que eu não sinta inveja?