sexta-feira, 29 de maio de 2009

Le clavier bien tempéré - Ashkenazy

Vladimir Ashkenazy é obviamente um grande pianista (e muito mais velho, actualmente, do que nesta fotografia de 1974) mas as suas gravações, por vezes, são irregulares e deixam-nos um gosto a pouco. Mas nada disso acontece na sua esplêndida interpretação do «Cravo bem Temperado» (ou, melhor dizendo, do «Piano bem Temperado») de Bach. Há como que uma sagesse na forma calma como Ashkenazy se ataca aos 48 prelúdios e fugas que constituem, na forma clássica consagrada, o Antigo Testamento da arte do piano (o Novo Testamento é constituído pelas 32 sonatas para piano de Beethoven e, se é certo que, nestas, algumas que não merecem ser elevadas a tanta grandeza, esse facto é certamente compensadas por outras que se situam para lá do que o mundo pode produzir de belo - tenho sempre dito que gostava que o último andamento da Sonata No. 32, op.111, fosse tocado no meu enterro porque não vejo melhor forma de me despedir da vida.)

Nos últimos dias, beneficiando do meu iPod, tenho ouvido várias vezes esta gravação de Ashkenazy, da primeira à ultima peça - e sem me distrair com outras obras pelo meio. Ouvi, há uma semana, António Pinho Vargas dizer que Bach era simplesmente um génio. Ao escutarmos apenas algumas das peças que fazem parte do «Cravo bem Temperado», podemos não nos aperceber da extraordinária beleza da obra completa. Façam a experiência: ouçam tudo duma vez, sem interrupção, mas ecutando também os tão importantes silêncios. Richer gravou o «Clavier bien tempéré», Fischer também. Mas comecem por esta interpretação de Ashkenazy, a mais equilibrada, aquela em que o intérprete quase se apaga para melhor deixar cantar o compositor.

E depois, ajoelhemo-nos juntos diante do que é simplesmente sublime.