Chopin - Concerto para piano No. 1
Há, para mim, três gravações excepcionais do Concerto No. 1 para Piano e Orquestra de Chopin, em mi menor, op.11 (que é, na verdade, o seu segundo concerto e, de longe, o mais conseguido: o chamado Concerto No. 2, comparativamente menor, é anterior!): ambas antigas, e ambas de grandes pianistas. Esta aqui ao lado, de Maurizio Pollini (ainda muito novo) com Paul Kletzki a dirigir a orquestra é uma delas. E as de Martha Argerich, com Dutoit (na altura, o seu marido), ou com Abbado, são as duas outras. Mas sou suspeito. Considero extraordinário quase tudo o que fazem Pollini ou Argerich. Ele, pela sua forma quase sobre-humana de traduzir a música, como se estivesse ao lado do compositor a criá-la de novo; ela, pela extraordinária facilidade (e velocidade) dos seus dedos sobre o piano e pela sua ligação quase física às peças que toca - ainda mais evidente, por exemplo, nas suas várias interpretações do concerto de Schumann e naquela que é uma quase esquecida, mas a melhor, gravação do Concerto No. 20, de Mozart.
E rio-me, ainda hoje, dum conhecido meu com pretensões a crítico musical, que dizia, há poucos anos atrás, que os pianistas melhoravam quando envelheciam, com a excepção, precisamente, de Pollini e Argerich, que estariam em decadência. Sinal de que os críticos muitas vezes não sabem o que dizem; pior, que se ouvem apenas entre eles, em vez de escutarem os discos, as interpretações. Para o provar, bastaria dizer que, em recentes audições «às cegas» publicadas, respectivamente, na revista belga Classica e na inglesa Gramophone, Pollini e Argerich vêm, em primeiro e segundo lugar, ele, na sua interpretação da Appassionata de Beethoven, ela, na do Concerto No.3 para piano e orquestra do mesmo compositor (acompanhada por Abbado - e o concerto No.2, no mesmo disco, é ainda melhor).
Mas não me esqueço de uma interpretação ao vivo, há mais de quinze anos, no Palais des Beaux-Arts, aqui em Bruxelas: a de El Bacha, pianista libanês radicado em Bruxelas, que me despertou, de uma vez por todas, para a extraordinária beleza do segundo andamento (lento) deste concerto. Nesse recital de data incerta, ele tocou duma forma sublime. Vantagens de estar no bom sítio e na boa altura! Não há, creio, nenhuma gravação desse recital. Mas, na minha recordação, tratou-se da mais esplêndida interpretação desse andamento - apenas desse, já que os primeiro e terceiro foram menos conseguidos. Só que não tenho nada, excepto uma memória défaillante, a lembrança dum momento inolvidável, para o provar. É pena!
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