A Igreja e a homossexualidade
D. José Saraiva Martins, Prefeito Emérito da Congregação para as Causas dos Santos, considerou na Figueira da Foz (nos mesmos colóquios em que D. José Policarpo fez as suas afirmações polémicas sobre os casamentos de mulheres cristãs com homens muçulmanos, com as quais o augusto prelado também declarou concordar, recomendando «cautela»), que a homossexualidade não é normal. «Não é normal no sentido de que a Bíblia diz que quando Deus criou o ser humano, criou o homem e a mulher». (O Cardeal esqueceu-se de referir que Eva proveio duma costela de Adão, argumento que foi tantas vezes utilizado para provar (?) a sua natural inferioridade, da mesma forma que a história da maçã e da serpente foi usada para demonstrar (?) a sua irrepremível luxúria!) E acrescentou «que (os homossexuais) não podem providenciar a formação das crianças, porque uma criança para ser formada normalmente precisa de um pai e de uma mãe e não de dois pais ou de duas mães», já que o pai e a mãe «são diferentes, têm diferentes qualidades, completam-se mutuamente de uma maneira maravilhosa». Pela minha parte, tinha-me esquecido que os homossexuais são todos iguais e apresentam rigorosamente as mesmas qualidades, e ainda que duas pessoas do mesmo sexo são evidente e absolutamente incapazes de se completarem mutuamente de forma maravilhosa.
Mas já agora, por que é que Deus criou os homossexuais? Não lhe teria sido mais fácil, nas sua extrema sabedoria e no seu extremo poder (omnisciência e omnipotência), e se realmente «essa gente» não é normal, ter-se abstido de lhes dar existência? Porque, de duas, uma: ou Deus anda a gozar com eles, criando-os apenas para os condenar, ou então há uma razão divina que justifica a sua inclusão na humanidade, cuja compreensão foge aos senhores da Igreja.
Estes argumentos são, mesmo dum ponto de vista católica, duma assustadora indigência. Deixem os homossexuais em paz: afinal, eles também fazem parte do plano da criação! E, como dizia António Alçada Baptista, (cito de memória) «eu não percebo muito bem esse argumento de a homossexualidade não ser natural porque, afinal, a natureza faz maricas com o mesmo à-vontade com que faz os outros».
Eu não sei bem o que faz a Congregação para as Causas dos Santos mas atrevo-me a pensar que, com este cardeal a dirigi-la, o trabalho não deve ser de grande qualidade.
PS. Já agora o Público podia escrever a palavra homossexualidade de forma correcta, ou seja, com dois «s».
2 Comments:
oh Zé Pedro, é o segundo comentário que fazes no mesmo sentido: deixa-me explicar...
ele é o rico a achar mal que aumentem os impostos para os ricos
ele é o padre a achar que a homossexualidade é anormal
está tudo certo, Zé Pedro. Era mau era que o rico quisesse mais impostos e o padre acha-se a homossexualidade normal. Isso é que era estranho. E de desconfiar...
No último caso, o do padre, até é salutar: ficamos a compreender melhor porque a igraja católica tem tantos anormais....
É. Deveria tê-los levado menos a sério (e a mim!) e limitado a gozar com eles.
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