De volta – com a crise financeira à vista

A política portuguesa está em estado comatoso: uma espécie de adormecimento involuntário com pano de fundo de eleições a chegar em clima de crise económica e financeira. Nunca suportei Sócrates (nem em estilo nem em substância) mas a ideia de votar Manuela Ferreira Leite dá-me náuseas. Mais depressa votaria Jerónimo de Sousa (Paulo Portas nunca seria, para mim, uma opção; Francisco Louçã é mero disparate vestido de seminarista) se não fosse a triste convicção de que o Partido Comunista não tem, do ponto de vista político ou ideológico, o que quer que seja para oferecer a quem quer que seja. Manuel Alegre, por seu lado, é uma fraude fundada na sua evidente categoria intelectual. Mas nada do que diz se aplica à política e ao país: limita-se a denunciar, com razão, o autoritarismo de Sócrates mas, em verdade, que propõe em troca? O sonho de Alegre? Em todo o caso, nada garante que escritores ou poetas sejam bons homens de Estado. A experiência histórica milita claramente em sentido contrário. Mesmo Havel, um dos que melhor conseguiu construir essa ponte entre autores, pensadores ou filósofos e políticos, não é um exemplo de excelência, mas apenas de prática réussite. O exemplo de Bertrand Russel, ou dos Webb, ou dos vários compagnons de route dos comunistas nos anos cinquenta e sessenta, deveria bastar para nos prevenir contra esta praga.
A política internacional, depois do entusiasmo provocado pela vitória de Obama, também deixou de apresentar pontos de interesse imediato. Claro que podia comentar os diversos aspetos da crise económica e financeira mundial. Mas tanta gente há que o faz muito melhor do que eu alguma vez poderia sequer pensar (o recente artigo de Amartya Sen, “Capitalism Beyond the Crisis” na New York Review of Books, é um claro exemplo – e peço desculpa por esta (quase) tentativa de me comparar a um Prémio Nobel!) – que tudo o que eu dissesse – para além de denunciar os aspetos morais ligados à forma como poucos se enriqueceram à custa de muitos – saberia a pouco.
Maa não desespero – pelo contrário! Acredito que esta crise conduza a que possamos repensar a forma de organização das nossas sociedades – deixando de pensar que a economia determina a política e, sobretudo, que não há alternativas à completa confusão intelectual e moral em que o chamado novo liberalismo (que nem é novo nem sequer liberalismo), na sua versão de pensamento único, nos mergulhou. Mas não devemos também lançar fora o bebé com a água do banho (provérbio francês sobre o qual Sarkozy deveria refletir. O Estado não é a panaceia para os nossos males. Os burocratas (eurocratas incluídos) que, nas últimas décadas, colocaram dificuldades insuperáveis às vidas dos mais pobres e démunis, não desapareceram apenas porque falhou a iniciativa privada. É preciso encontrar um equilíbrio entre o mercado e o poder político. Esse equilíbrio passa pela defesa do modelo social europeu – se o entendermos na pureza dos seus objetivos iniciais e não no monstro burocrático a que deu origem. É preciso compreender que os ideais de igualdade e equidade ínsitos nesse modelo são também uma garantia de eficácia económica – particularmente importante em momentos de crise. Nesse aspeto, Keynes não nos ajuda muito. Sen diz que Pigou é uma guia mais seguro. Mais modernamente, Krugman pode indicar-nos aguns dos caminhos a percorrer. A via seguida por Obama (e até por Brown, na Grã-Bretanha), com todos os seus defeitos, contém elementos que podem levar à solução dos nossos problemas atuais e a uma indicação do que deve ser o sistema futuro.
Estas são as questões importantes com que devemos preocuparmos. Temo que o meu contributo para elas não passe dum conjunto de banalidades. Por isso, prefiro remeter-me a um prudente silêncio - que não significa, longe disso, desinteresse ou distância. Por isso, guardo um lugar reservado aqui neste blogue. A preencher quando achar que é necessário.
PS. Este é o primeiro dos meus artigos que utiliza as novas regras do Acordo Ortográfico! Desculpem os puristas.
1 Comments:
pois, eu também li a NYRB e mandei a uma série de gente...
isto não tem nada a ver com a crise, mas é mesmo muito divertido...
http://placebojournal.blogspot.com/
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