Amália e Pedro Homem de Mello
Pedro Homem de Mello era outro poeta cantabile (neste caso, a frase foi de Natália Correia, no obituário que lhe dedicou, se não estou em erro, no Diário de Lisboa, de Ruella Ramos, que morreu há menos de um mês). Para Amália, Homem de Mello compôs vários fados, várias canções. Ficam aqui estes dois, os mais importantes. Mas, se o conseguir descobrir na Net, também não esquecerei O Rapaz da Camisola Verde. A música de Povo que lavas no Rio é de Joaquim Campos; a de Havemos de ir a Viana, de Alain Oulman.
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!
Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!
Fui ter à mesa redonda,
Bebendo em malga que esconda
O beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida, não!
Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!
Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!
Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!
Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida, não!
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!
Havemos de ir a Viana
Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.
Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.
Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
e o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorços têm oitenta.
Povo que lavas no rio:
http://www.dailymotion.com/video/x3c0aj_povo-que-lavas-no-rio
Havemos de ir a Viana (e esta foi a melhor das interpretações que consegui encontrar na Net):
http://www.youtube.com/watch?v=-Th_xQVK06s
2 Comments:
Repito: O 25 de Abril e a Revoluçao dos cravos em Julho???? Quem haveria de dizer? Donde virá este fervor patriotico e ardor revolucionario? A gauche caviar em todo o seu esplendor...Nao da para acreditar...
Amigo do Zeca Afonso???
Bom... Um blogue quer-se polémico e, por isso, há que aceitar tanto as críticas assim como os elogios. Podia não responder - seria a atitude mais prudente, mais fácil, mas, convenhamos, sem grande graça.
Admiro-me que alguém que me conhece há tanto tempo fique surpreendida por eu gostar das canções do Zeca Afonso. Confesso ainda, correndo os riscos de ser acusado de heresia e objecto de anátema, que também gosto das poesias de Ary dos Santos e de Manuel Alegre (e de os ouvir declamar poemas seus e alheios) e, entre tantos outros, de ouvir Adriano Correia de Oliveira (neste caso, até o meu Pai, que era bem de direita, gostava das suas interpretações de fados de Coimbra!), de Mário Soares (de quem discordo muitas vezes, mas gosto), de Mitterrand e de Jospin. Mas, por exemplo, não gosto de Francisco Louçã e detesto Tony Blair!
Em geral, a minha tendência é para gostar mais de falar com gente de esquerda do que com gente de direita - mas isso também não devia ser surpresa! Mas, quando gosto de uma pessoa, não me importa nem um bocadinho a forma como vota!
Quanto à gauche caviar, acho piada. (Aplica-se mais ao Bernard-Henri Lévy do que a mim mas por quê queixar-me destas companhias). Assim, para pôr os pontos nos «is», e para além de gostar imenso de caviar, posso ainda confessar que, como a Imelda Marcos (que, aliás, era de direita), tenho uma especial predilecção por sapatos. Mas, por exemplo, não me interessam os carros caros (nem, aliás, os baratos). Será que uma coisa compensa a outra? Se sim, serei talvez, apenas, um membro da gauche lagosta... Ou seja, um grau abaixo... Nada mal.
Enviar um comentário
<< Home