terça-feira, 3 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss (21 de Novembro de 1908 - 1 de Novembro de 2009)

Quem sou eu para acrescentar o que quer que seja ao coro de elogios e homenagens que se seguiu ao anúncio da morte de Claude Lévi-Strauss, na noite de sábado para domingo, depois de uma vida que durou mais do que um século? Pouco posso dizer sobre o estruturalismo, de que ele foi um dos principais, digamos, mensageiros, método que informou a maioria dos seus escritos teóricos. Mais qualquer coisa sobre o seu célebre livro Tristes Trópicos, que me encantou quando lhe peguei pela primeira vez, teria pouco mais de vinte anos, numa edição que, se não estou em erro, era das Edições 70. Um livro de viagem, a viagem mesmo, um romance, uma crónica? Mais isso, certamente, do que um simples livro de antropologia. Uma obra que nos convida a reflectir sobre a análise das relações entre o mundo antigo e o mundo moderno, sobre o lugar do homem na natureza, o sentido da civilização e do progresso.

Mas foi, antes disso, um rapaz de dezassete anos, totalmente incapaz de compreender métodos sociológicos ou antropológicos (funcionalismo, estruturalismo, etc.), e quase ainda gago diante doutros termos que depois vieram a fazer parte da sua vida (marxismo, capitalismo, fascismo, liberalismo), que se encantou com o conjunto de informações encontrado nas Estruturas Elementares do Parentesco e que se espantou diante da importância dada, nas sociedades então chamadas selvagens (termo que Lévi-Strauss contribuiu para afastar do vocabulário antropológico), ao irmão da mãe, que desempenhava o papel de verdadeiro chefe da família. Tudo isso me parecia, então, semelhante a um conto de fadas e me abriu os olhos para os diferentes tons das cores do mundo. Esta foi uma lição que nunca esqueci e que, ainda hoje, principalmente hoje, me serve de armadura contra todos aqueles que cantam os louvores de uma única civilização ou cultura (que é - será necessário dizê-lo? - sempre a sua própria), e lutam e matam para afirmar a sua superioridade face a todas as outras.

Assim, se nada do eu disser pode acrescentar uma mesmo que muito pequena parcela à glória de Lévi-Strauss, fica, pelo menos, a recordação comovida desse miúdo que aspirava a crescer. E de um homem de génio, um mestre, que, de longe, através de um grande livro, o ajudou um pouco nesse caminho da vida.