Angela Merkel
Angela Merkel deve a sua reeleição exclusivamente à sua personalidade. A grande coligação com os sociais-democratas, que chefia desde há quatro anos, obrigou-a a um permanente compromisso sobre o seu programa e as políticas e acções concretas que, provavelmente, gostaria de ter prosseguido. Mas os alemães preferiram o seu estilo calmo e terra a terra, o seu total domínio das questões internas e dos dossiers importantes e o seu prestígio internacional. Por sua vez, o Partido Social-Democrata pagou cara a experiência deste bloco central em que funcionou, principalmente, como travão aos eventuais excessos de direita, em que os alemães manifestamente não acreditaram. da chanceler; e paga, sobretudo, a terceira via que lhe foi imposta por um Gerhard Schroeder de triste memória, uma espécie de arauto alemão da terceira via, cuja memória conduziu o seu partido ao seu pior resultado de sempre desde a II Guerra Mundial – como acontecerá, no Reino Unido, com o Labour Party, marcado pela memória de Blair e pelos sucessivos disparates de Brown. A subida impressionante da esquerda radical, dirigida por Oskar Lafontaine, é a prova de que governar à direita não é, para os partidos de esquerda, uma forma de conseguir votos. Escrevo a poucos minutos de conhecer os resultados das eleições portuguesas mas espero (como disse no artigo anterior) que, entre nós, este fenómeno não tenha assumido as mesmas proporções.
Agora, Merkel terá as mãos livres (os liberais não terão peso para influenciar decisivamente a chanceler e não o farão, certamente, num sentido mais social). Serão, para ela, os anos da verdade. De qualquer maneira, dentro de quatro anos, os alemães terão direito, se a esquerda despertar, a uma verdadeira escolha, entre partidos diferentes, representando ideologias diferentes e apresentando programas de governo diferentes. Melhor do que estes tons de cinzento que acompanham inevitavelmente as grandes coligações ou os blocos centrais.
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