O Público sacode a água do capote
Há, no editorial de hoje do Público, onde José Manuel Fernandes tenta, como se costuma dizer, sacudir a água do capote, esta passagem que merece reflexão: «A 18 de Agosto o Público editou uma notícia, baseada numa fonte identificada como «membro da Casa Civil do Presidente da República» em que esta assumia que esta se interrogava: «Será que em Belém passámos à condição de vigiados?» Uma tal suspeição, assumida por uma fonte do Palácio de Belém, é notícia em qualquer parte do mundo (sublinhado meu). No dia seguinte essa notícia não só não foi desmentida, como foi confirmada por outros órgãos de informação. Escrevi então em editorial: «Se a Presidência da República quis que se soubesse das suas suspeitas sobre o não cumprimento das regras do jogo por alguns actores políticos é porque sente que pode ficar no olho da tempestade depois das eleições de 27 de Setembro».
A passagem que merece que nos detenhamos um pouco sobre ela é a afirmação sublinhada: «uma tal suspeição é notícia em qualquer parte do mundo». Não é verdade. Um jornal que se preza tem que se assegurar da verdade do conteúdo das notícias que veicula. Não pode basear-se apenas em boatos ou em informações não confirmadas. Basta ter visto o filme All the President’s men, sobre o Watergate, para se compreender o enorme cuidado e o imenso trabalho de investigação que a direcção e a redacção do Washington Post efectuaram antes de trazerem a público uma informação daquela gravidade. Um trabalho que durou semanas, meses… Que os obrigou, a certa altura, a exigirem conhecer a identidade do seu informador. Que implicou os advogados do jornal e, numa fase já muito adiantada, os seus administradores. Não foi trabalho feito em cima do joelho. Muito menos, uma notícia dada com claros propósitos políticos (como o Provedor do Leitor do Público o assinalou).
Para além do mais, o jornal dirigido por José Manuel Fernandes estava em condições de saber, por uma mensagem do seu colaborador na Madeira, velha de dezasseis ou dezassete meses, que as suspeitas da Presidência da República se baseavam em nada – ou ainda pior, como é dito no correio electrónico divulgado pelo Diário de Notícias, em simples paranóia. Dar a notícia nestas condições é de uma inqualificável irresponsabilidade.
Porque a notícia não era anódina… Já o disse várias vezes: se o Governo andasse a vigiar o Presidente da República, a única consequência possível era a demissão do Primeiro-Ministro a o fim da sua carreira política. Uma informação dessa importância, quando não confirmada, não é notícia em nenhuma parte do mundo.
PS Só para acrescentar que o cinismo de José Manuel Fernandes chega ao ponto de o vermos agora pedir responsabilidades ao Presidente da República e exigir-lhe que esclareça devidamente todo este caso. O mesmo, exactamente, que devíamos esperar do director de um jornal que é o principal responsável por esta polémica.
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