Jogos Olímpicos de 2016 - Rio de Janeiro
É difícil, para alguém que como eu acha Brasil um país de eleição e considera o continente sul-americano como um dos espaços mais criativos do mundo actual, não ficar contente com a escolha do Rio de Janeiro para acolher os Jogos Olímpicos de 2016. Mesmo se, a acreditar que ainda estarei vivo e de bom porte nessa altura, a escolha de Madrid, aqui perto, me conviesse mais.
Chicago teve a defender a sua candidatura a personalidade mais importante da cena internacional dos últimos tempos: o próprio Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Madrid teve também o seu campeão. Juan Antonio Saramanch, antigo Presidente do Comité Olímpico e cujo passado franquista é geralmente metido debaixo dum espesso tapete, recordou a sua contribuição para o desenvolvimento dos Jogos que, sob a sua presidência, se transformaram num enorme evento mediático, perdendo mesmo alguma da sua pureza inicial (se se pode chamar puro àquilo que Pierre de Coubertin conseguiu criar – mas, pelo menos, havia uma clara diferença entre amardes e profissionais que se perdeu, sem grandes custos, antes pelo contrário, para a qualidade desportiva dos Jogos, embora abrindo a porta a escândalos duros, como o doping de Ben Johnston numa célebre final dos 100 metros). Os argumentos de Saramanch não foram suficientes.
Lula deu a cara pelo Rio de Janeiro – e a cara de Lula é importante no seu país, no continente sul-americano e no mundo. Está ainda por fazer a história deste homem extraordinário que conseguiu reconciliar o Brasil consigo mesmo e, sobretudo, contribuir para um crescimento económico e uma redução das desigualdades incomparável em qualquer outro país. Por isso, o sucesso do Rio de Janeiro (que continua lindo) é, principalmente, o sucesso de Lula da Silva, homem de origem modesta, sem grande instrução formal mas dotado de uma extraordinária cultura da vida, ex-sindicalista preso durante a ditadura, Presidente de um grande país, e constitui uma notável consagração no termo de uma Presidência que se aproxima do fim e que Lula – honra lhe seja feita – se recusou a prolongar apesar das sondagens que o davam como vencedor certo de qualquer eleição a que se apresentasse.
E, já agora, o poema que creio ser de de Vinicius de Moraes (com música de Band Powell). Se alguém encontrar o video da canção na Internet, mande-me o link para eu o poder pôr aqui no blogue.
O Rio de Janeiro continua sendo…
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô, Realengo – aquele abraço!
Alô, torcida do Flamengo – aquele abraço!
Chacrinha continua balançando a pança…
E buzinando a moça e comandando a massa…
E continua dando as ordens no terreiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha – velho palhaço
Alô, alô, Terezinha – aquele abraço!
Alô, moça da favela – aquele abraço!
Todo mundo da Portela – aquele abraço!
Todo mês de fevereiro – aquele passo!
Alô, Banda de Ipanema – aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu – aquele abraço!
Pra você que meu esqueceu – aquele abraço!
Alô, Rio de Janeiro – aquele abraço!
Todo o povo brasileiro – aquele abraço!
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março…
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