segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sócrates - vitória? PS - derrota?

Anda por aí alguma gente a dizer que o PS teve uma «vitória extraordinária» nestas eleições. Permito-me discordar, eu que até a desejava. Esta conclusão é mais um exemplo típico de olharmos para a política apenas em termos de personalidades – e não de partidos, movimentos ou ideologias nem, muito menos, tendo em conta as possibilidades de contituir um governo eficaz. Ou seja: é verdade que Sócrates evitou o pontapé no rabo que toda a oposição, sem excepção, pretendia dar-lhe. O seu PS chega à frente do PSD, com uma margem relativamente confortável de 7% dos votos mas extremamente desconfortável em termos de número de deputados: apenas 18 a mais do que os que se sentarão na bancada social-democrata. O PS não conseguiu mais do que 96 lugares, uma perda de 24 em relação à anterior legislatura. O único partido com que pode assegurar uma maioria absoluta (para além do PSD, no que seria um impossível bloco central) é o CDS. Para uma maioria de esquerda, tão apreciada por alguns senadores socialistas, seria necessário convencer Louça e Jerónimo ao mesmo tempo. Possível em termos de questões sociais (casamento dos homossexuais, liberalização das uniões de facto, etc.), impossível em tudo o resto. E está ainda para saber qual o preço que os partidos de direita cobrarão por questões assim de menor importância, como deixar passar o orçamento! Deixem-me adivinhar um título possível para uma próxima edição de um qualquer matutino: «Portas condiciona a aprovação do orçamento à retirada do projecto de lei sobre casamentos homossexuais». Impossível? Deixem-me rir. Guterres comprou um orçamento com queijos limianos.

Em suma, Sócrates chegou em primeiro lugar numas eleições disputadas e conseguiu evitar que o Presidente da República lhe apontasse, com ar grave, de dedo em riste e de imediato, a porta de saída. E pode sentir algum contentamento face às dificuldades da detestada Ferreira Leite. Mas encontra-se numa situação em que conseguirá governar. Para além do mais, ao longo dos anos que passaram, não acumulou qualquer capital de simpatia junto das pessoas com quem agora terá necessidade de conversar e negociar - pelo contrário. Não vejo como o PS – mas, muito pior, o país – sairá desta embrulhada. Entretanto, deixem-no para aí a cantar vitória. Até daqui a dois anos!