terça-feira, 26 de agosto de 2008

Casa da Pérgola

Os melhores momentos das minhas curtas férias passei-os aqui, numa estupenda casa de turismo de habitação, perto da praia e da estação, em Cascais, onde vivi quando tinha dez anos e aonde me agrada sempre voltar. Quarto pequeno (mas barato) e uma casa de banho linda, do tamanho da casa inteira! Perto, a Praia da Conceição. Em frente, os gelados Santini (que nem sequer provei, dieta oblige) e a Livraria Galileu. Grandes conversas com a dona, Caroline Thyssen, belga de origem. Recomendou-me um dos livros mais fantásticos que li nos últimos tempos: Casa de Campo de José Donoso, escritor chileno morto em 1996, de que só tinha ouvido falar porque Lobo Antunes foi, há pouco tempo, galardoado com o prémio do mesmo nome. Chegado a Bruxelas, encomendei um outro livro seu, o único que não está esgotado: Coroação. Das minhas trocas de impressões com a Sra. Thyssen, descobri que, ao contrário do que me aconteceu, não gostou do livro de Pascal Mercier, Train de nuit pour Lisbonne, recentemente traduzido para português com o título Comboio Nocturno para Lisboa. Prometi-lhe que o leria outra vez para trocarmos novas impressões. Segundo ela, o estilo e as palavras utilizadas (incandescente e lava eram as que mais a impressionavam: palavras riquíssimas que só podiam ser repetidas com muito cuidado - disse-me que o autor devia ter lido e copiado Tazieff, um conhecido vulcanólogo francês) revelavam uma confrangedora artificialidade. Chegou ao ponto de o considerar o pior livro do ano! E contou-me que o autor, em Lisboa, numa conferência no Goethe Institut, terá sido relativamente pedante, principalmente ao comentar o livro de Carlos Luis Zafon, A Sombra do Vento, dizendo que não lia best-sellers. Mas a verdade é que, se tivesse vivido noutros tempos, não teria lido Balzac ou Dumas e, com essa atitude, teria passado ao lado dos maiores escritores do século passado, que vendiam muitos livros. (Um novo livro de Pascal Mercier, L'accordeur de pianos, acaba de aparecer na Bélgica. Depois desta conversa, hesito em comprá-lo.)

Quanto à Casa da Pérgola (onde apenas me irritou a mania de lhe dar o nome inglês: Pergola House), gostei mais do que posso confessar. Vou voltar. Esta estadia deu-me forças para regressar a Bruxelas e a este tempo chato e cinzento. Amanhã recomeço a trabalhar. Haja Deus!