domingo, 23 de agosto de 2009

Praia Maria Luísa - Derrocada

Durante anos seguidos, passei o Verão na praia Maria Luísa. Ainda lá o passam os meus primos e os meus sobrinhos. Tanto basta para ter ficado consternado com a notícia da derrocada de uma falésia que provocou a morte de cinco pessoas.

O que é grave é que de há muito que um tal desastre se anunciava. As pessoas que gritam contra controlos e fiscalizações ficam, nestas ocasiões, mudas de vergonha e com as faces encarnadas. Ninguém atendia aos cartazes que chamavam a atenção para o perigo. Contudo, se esse canto da praia tivesse sido interdito, assistiríamos por certo às reacções histéricas daqueles que também se indignam com a ASAE mas, ao mesmo tempo, fazem queixa se uma bola de berlim estragada é servida numa pastelaria.

As construções nas arribas algarvias são um escândalo que só pôde existir em troca de somas faraónicas pagas a autarcas corruptos e pouco interessados na vida ou no bem estar das populações autóctones ou dos turistas, nacionais ou estrangeiros. Para mais, apoiados por gente, no Algarve e em Lisboa, que se convenceu de que, em matéria de turismo, tudo vale, e de que as receitas turísticas justificam entorses às leis e aos ditames do bom senso... Foi sempre assim no Algarve, que décadas e décadas de disparates justificados por uma falsa concepção do desenvolvimento económico transformaram de lugar paradisíaco em inferno urbanístico. Perto da falésia que caiu, há habitações que nunca deveriam ter sido autorizadas e que deveriam mesmo ser deitadas abaixo.

Estas mortes não deviam ter ocorrido. Se estivéssemos noutro país, ainda teríamos a sensação de que se aprenderia com os erros do passado. Foi assim em França, por exemplo, quando o grande incêndio na região das Landes, há precisamente cinquenta anos, em que morreram mais de oitenta bombeiros e habitantes, levou a que fosse totalmente repensada a forma de reagir a inevitáveis (o que, no caso da Maria Luísa, nem era verdade: tudo isto era facilmente evitável) catástrofes naturais. Infelizmente, estamos em Portugal. Depois de um período de luto e de tristeza, tudo voltará ao normal. Preparem-se Presidente da República, Primeiro-ministro, ministros e autarcas para fazer visitas com cara de enterro aos lugares e nas ocasiões semelhantes que o futuro inevitavelmente nos reservará.