sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Pai, a Académica e o carro

Imagino a conversa. André Villas Boas diz: «O André Villas Boas fica na Académica. O Sporting e a Académica não conseguiram chegar a acordo sobre a transferência do André Villas Boas.»

Fico contente por saber que a Académica guarda um bom treinador. O meu Pai era um adepto fervoroso, ferrenho, selvagem, do clube de Coimbra, daqueles que são capazes de correr atrás dos árbitros para lhes bater (era o que contava a Mãe). Julgo que o era, sobretudo, em virtude duma grande saudade dos seus tempos de estudante. Contava-nos, com algum orgulho, que, na Faculdade, era conhecido pela alcunha "Simoni", nome dum avançado que, como ele, viera da Covilhã para as bandas do Mondego: no caso concreto, transferido do Sporting da Covilhã para a Académica.

A primeira vez que fui ao futebol, ainda pela mão do Pai (devia ter onze anos), foi precisamente em Coimbra para assistir a um jogo entre a Académica e o Vitória de Setúbal. E lembro-me (nessa altura, todos lá em casa, excepto o Francisco que, por ser muito mais novo, tinha autorização para fazer coisas em que os outros nem pensavam, éramos - forçosamente - da Académica) de ter vibrado nesse célebre campeonato (1966/67 ou 1967/68) em que a Académica disputou o título e acabou em segundo lugar, a sua melhor classificação de sempre (Treinador: Mário Wilson).

Há sempre um reverso da medalha. Nesse ano (1966, 67 ou 68), no início da época, o Académica jogou contra o Vitória de Guimarães. Nós estávamos nas Caldas em casa do Avô. Ao intervalo, perdíamos por 2-0. O Pai começou a bufar e, num dos seus repentes, meteu-nos a todos no carro, um Ford Corina GT, verde-garrafa, e - ala! - partimos para a Foz do Arelho. Pois não é que, enquanto andávamos de lá para cá, dentro do carro, fartos, fartinhos, como quaisquer miúdos dentro dum automóvel em movimento, a Académica marca três golos e ganha o jogo? E não é que o Pai prometeu e decidiu que, sempre que a Académica jogasse em Coimbra, iríamos de passeata à Foz?

Não conseguiu manter a promessa. Não era suficientemente sádico para nos obrigar a passar as tardes de domingo enfiados no carro. Mas ele, passou-as. Quando se tratava da Académica, não tinha o juízo todo. Um pouco como o Francisco e o meu genro João com o Benfica... mas essa é outra história.

Já agora, e para se ver como as crianças gostam de andar de automóvel, lembro-me de, quando ainda fazia a viagem por estrada de Bruxelas a Lisboa, a Teresa e o Diogo começavam a perguntar "quando chegamos?" aí por volta de Waterloo - vinte quilómetros depois da partida, ou seja, mais ou menos 1% do percurso total de dois mil e duzentos.