segunda-feira, 22 de maio de 2006

Praias e Poemas - Baleal



David Mourão-Ferreira
Soneto do Amor Difícil

A praia abandonada recomeça
logo que o mar se vai, a desejá-lo:
é como o nosso amor, somente embalo
enquanto não é mais que uma promessa...

Mas se na praia a onda se espedaça,
há logo nostalgia duma flor
que ali devia estar para compor
a vaga em seu rumor de fim de raça.

Bruscos e doloridos, refulgimos
no silêncio de morte que nos tolhe,
como entre o mar e a praia um longo molhe

e súbito surgido à flor dos limos.
E deste amor difícil só nasceu
desencanto na curva do teu céu.