quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ted Kennedy

Ted Kennedy é o último representante duma geração da sua família que definiu uma certa forma de ser e estar na política americana. Estou de acordo com Eric Hobsbawm quando ele escreve (em The Age of Extremes – The Short Twentieth Century) que John Kennedy foi «the most overrated» Presidente dos Estados Unidos do século XX. Ele representou, apenas, muito mais do que uma política aceitável (não esquecer o catastrófico episódio da Baía dos Porcos, em Cuba, e o envolvimento dos Estados Unidos no Vietname), a imagem dum homem novo, bonito, jovem, católico (ia quase dizer: de excelente família, se não fossem as ligações nazis e mafiosas do seu pai) e casado com uma extraordinária mulher, capaz de seduzir o General De Gaulle. Mas morreu cedo, assassinado, como morreu, poucos anos mais tarde, depois de ter evoluído mais à esquerda, e também assassinado por um atrasado mental, o seu irmão Robert. Deste, a imagem que guardo é a coragem e o respeito pelos seus eleitores que demonstrou ao anunciar a morte de Martin Luther King a uma assembleia de negros utilizando uma citação de Esquilo, homenageando a inteligência das mulheres e dos homens a quem se dirigia.

Edward Kennedy veio ontem à Convenção Democrática consagrar Barack Obama, transferir-lhe a estafeta dos ideais políticos do Partido Democrático (foi o primeiro orador a criticar McCain e os republicanos) e assegurar-lhe o testemunho duma continuidade que os Kennedy incarnam porque só eles são, como Péricles em Atenas, para o mal e para o bem, os guardiães dessa forma especial de estar no mundo, feita de mística e propaganda e assente no sacrifício de dois homens mortos. Que ele, com as suas palavras preciosas, tenha vindo clamar a sua confiança na mudança prometida por Obama, no preciso momento em que está a morrer dum cancro, revela bem a sua enorme vontade de influenciar as escolhas do partido. E, mais do que isso, mostra a qualidade dum homem que viveu sempre na sombra dos seus irmãos mas que, mais do que eles, desenhou uma América liberal, preocupada com a sorte dos mais pobres, defendendo ideias que estão hoje, naqueles lados e infelizmente, fora de moda. Por isso ele disse: «Nada, nada, nada me impediria de estar aqui.» E por isso disse ainda: «A esperança renasce. O sonho continua