Tortura - As fotografias
Já aqui exprimi a minha opinião sobre a divulgação das fotografias que documentam os casos de tortura infligidos por soldados e civis americanos aos prisioneiros, principalmente muçulmanos, que se encontram em seu poder. Disse que, por um lado, todas as minhas convicções me levavam a considerar necessária essa publicação; mas, por outro, que podia compreender a atitude do Presidente Obama, chefe das forças armadas do seu país, quando ele considerava que a difusão de tais fotografias podia traduzir-se num perigo acrescido para os soldados americanos em combate, se estes fossem, por sua vez, constituídos prisioneiros.
Agora, o que é absolutamente indecente é a declaração feita ontem por dois senadores americanos, Joe Lieberman (ex-democrata, agora independente, e apoiante de John McCain na eleição presidencial) e Lindsey Graham (republicano), segundo a qual essa divulgação não teria qualquer sentido, tratando-se de um acto de «sheer voyeurism».
Belisco-me para tentar perceber se estou acordado. Estamos a falar das mesmas coisas? Do que se trata aqui é de demonstrar publicamente o horror a que conduz qualquer forma de tortura, justificada pelo governo de George Bush com base em duvidosos argumentos de eficácia que puseram de lado a sua imoralidade essencial. Pode aceitar-se que Barack Obama decida que essas imagens não devem ser publicadas, pelas razões já indicadas. Mas trata-se de uma decisão ditada por motivos práticos e não por considerações morais.
Vir falar de exibicionismo neste contexto é indecoroso. Sem medo das palavras, pode mesmo dizer-se que é nojento. Porque a verdade é que o problema principal não está na divulgação ou não de tais imagens mas no seu conteúdo. Como é possível que cidadãos e soldados americanos se tenham comportado daquela maneira? É sobre isto que devíamos reflectir.
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