quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Desemprego

Há controvérsia nos números mas não há dúvida sobre o essencial. O desemprego não cessa de aumentar. (E diminui ao mesmo tempo a população activa). Mesmo os dados do Ministério do Trabalho apontam para uma taxa de desemprego de 9,8%, correspondente a 548 mil pessoas sem emprego. O inquérito do Instituto Nacional de Estatística é ainda mais assustador. Segundo estes últimos números, que incluiriam os inactivos disponíveis (83 mil pessoas que não procuraram emprego nas últimas quatro semanas), os desencorajados (34 mil que acham que não vale a pena procurar trabalho) e os que se encontram em situação de subemprego visível (66 mil pessoas que queriam trabalhar mais horas), estariam em causa mais de 730 mil pessoas, ou uma taxa de desemprego de 12,9%.

Isto é catastrófico. O desemprego é, não o esqueçamos, um verdadeiro flagelo que destrói a personalidade, no plano físico e moral. É causa de pobreza, de doença, de ansiedade e de desespero. Uma política económica que não se preocupe essencialmente com o emprego não é digna desse nome. Repare-se que não estou a sugerir que se proteja indefinidamente o emprego, por exemplo, adiando o encerramento de empresas claramente inviáveis. Isso seria, a prazo, insustentável e contraproducente. Estou, sim, a falar de utilizar todos os meios razoáveis ao nosso alcance para inverter a tendência actual. A receita liberal – de que o crescimento leva ao emprego e de que devemos concentrar-nos essencialmente em assegurar, através do investimento privado, que os desempregados regressem rapidamente ao mercado de trabalho – não é suficiente. Assim, por exemplo, poderá ser necessário assegurar uma certa divisão do trabalho existente (aceitando, por exemplo, menores horários com menores salários ou simplesmente menores salários para permitir o emprego de mais gente), como se faz, por exemplo, na Alemanha.

Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia no ano passado, que a minha filha Sofia foi ouvir a Louvain-la-Neuve exactamente no momento em que escrevo (deixando-me pela primeira vez sozinho com a Constança, que está a dormir na sua cadeirinha), salienta que não vale a pena pensar que aqueles que são actualmente forçados ao desemprego poderão encontrar rapidamente colocação noutras empresas, mais sólidas ou mais prósperas. Diz ele que, nesta altura, apenas vão engrossar o exército dos desempregados, dos que nada têm nem sequer a esperança. E é por isso que o desemprego de longa duração cresce como nunca. Só em Portugal, 253 mil pessoas procuram trabalho há mais de um ano.

E sobretudo não se diga que se trata de preguiçosa ou de gente que se encosta ao famoso modelo social europeu e, contente por viver deste lado do Atlântico, sobrevive. Essa conversa mete nojo. Aos que dizem estes disparates, sugiro que experimentem viver com o subsídio de desemprego: logo verão se conseguem simplesmente almoçar e jantar todos os dias – para já não falar de manterem a dignidade a que todos temos direito. Para além de que é bom não esquecer que, daquele universo de desempregados, apenas 350 mil recebem esse subsídio. E isto é se acreditarmos nos dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho. Porque o INE aponta para 240 mil pessoas, ou seja, apenas 43% ou 34 % (consoante os números que utilizarmos) do total dos desempregados. O resto – bem, quanto ao resto, não se sabe. Mas a subida horrível dos níveis de pobreza, em Portugal como noutros países, em particular, nos Estados Unidos e nos países da antiga Europa de Leste, é sem dúvida uma consequência desta situação.

Ingelizmente, não sinto, na acção do Governo, o sentimento de urgência que esta situação exige. Tardam as anunciadas obras públicas – o famoso estímulo keynesiano; parecem multiplicar-se, em vez de diminuir, os empecilhos á actividade das empresas, nomeadamente em matéria de acesso ao crédito. E a protecção social, decerto por razões orçamentais, não permite (longe disso!) resolver a situação dos mais desfavorecidos – de que faz parte, hoje, uma franja importante da chamada classe média. Não admira que os portugueses se sintam desanimados. Que se instale nas famílias, nos indivíduos, o desalento ou mesmo o desespero. O contrário é que seria de admirar.