sábado, 12 de dezembro de 2009

O cinismo de Tony Blair - I

Tony Blair estaria em melhor posição moral e política se tivesse dito há sete anos o que veio dizer agora. "Se não fossem as (pretensas) armas de destruição maciça (teria sido necessário) recorrer a outros argumentos quanto à natureza da ameaça". O facto, seguindo Tony Blair, é que o mundo está melhor sem Saddam e os seus filhos.

Infelizmente, em 2002, não nos foi dada a possibilidade de escolher com base nestes novos argumentos, que poderiam até ser sólidos ou mesmo apenas razoáveis. Dois políticos decidiram enganar os seus povos e até o mundo inteiro inventando a existência de um armamento inexistente. Levaram-nos à guerra sob falsos pretextos. E alguém ainda duvida que soubessem que eram falsos?

Acho que foi Rumsfeld que disse esta frase notável, que me foi lembrada pelo meu novo chefe de unidade na Comissão: "Absence of evidence is not evidence of absence". A ausência de provas não prova que as provas não existam. Com estas frases, pode justificar-se tudo. Um jurista, como ainda sou, arrepia-se com estas palavras porque elas abrem o caminho a todas as iniquidades.

Poderíamos até ter concordado com as outras razões que Tony Blair teria invocado – ou não: nem ele sabe quais seriam, limita-se a dizer que deveriam ser encontradas "outras" – para a guerra iraquiana. Só que não tivemos essa oportunidade. Em democracia, isto diz tudo. Fomos conduzidos, como cordeiros enganados, a uma guerra decidida sob falsos pretextos. E, ao que parece, Blair nem se envergonha disso: de nos ter enganado, mais do que quanto aos objectivos, quanto aos argumentos, sabendo perfeitamente que estes condicionavam aqueles.

Que nojo!